Senador do Partido Democrata "envergonhado" com acusações mas não se demite

Al Franken está a ser investigado pela Comissão de Ética por ter apalpado várias mulheres, mas as expulsões são raras: o último caso aconteceu há 155 anos.

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Al Franken Reuters/Craig Lassig

O senador norte-americano Al Franken, do Partido Democrata, disse que se sente "envergonhado" com as acusações de que apalpou várias mulheres na última década, mas garantiu que a demissão não está nos seus planos. Franken está a ser investigado pela Comissão de Ética, mas a punição não deverá passar de um voto de censura – o Senado norte-americano não expulsa um senador há 155 anos.

"Sinto-me embaraçado e envergonhado. Desiludi muitas pessoas e agora espero recuperar a confiança delas", disse o senador ao jornal Minneapolis Star Tribune, do Minnesota.

Numa tentativa de salvar a sua carreira política a tempo de ser reeleito em 2020 pelo estado do Minnesota, Al Franken deu uma série de entrevistas no domingo, todas focadas nas acusações de que é alvo: a primeira foi feita pela locutora de rádio Leeann Tweeden, que acusou o senador de a ter beijado à força em 2006 e de lhe ter posto as mãos no peito enquanto dormia (um momento que ficou registado em fotografia); depois, uma mulher chamada Lindsay Menz disse à CNN que Al Franken a apalpou no momento em que ambos estavam a ser fotografados numa feira no Minnesota, em 2010; e, na semana passada, o Huffington Post noticiou mais duas acusações, feitas por duas mulheres cujas identidades não foram reveladas, que também acusam o senador de as ter apalpado.

Al Franken começou por dizer que não se lembrava dos casos de que é acusado, mas desde então já pediu desculpas a Leeann Tweeden. Continua a dizer que não se lembra de ter posado para as fotografias em que aparece a tocar em mulheres contra a vontade delas e afirma que nada do que possa ter feito foi intencional. Mas numa outra entrevista no domingo, à rádio pública do Minnesota, disse que tem "reflectido muito" e que quer ser "um homem melhor".

"Vou assumir a responsabilidade. Vou ser responsabilizado pela Comissão de Ética. E espero vir a ser uma voz positiva. Eu respeito as mulheres. O que dá cabo de mim é que isto dá motivos às pessoas para acreditarem que eu não respeito as mulheres", disse o senador do Partido Democrata.

Em todas as entrevistas que deu no domingo, Al Franken recusou-se a ser comparado a Roy Moore, o candidato do Partido Republicano ao Senado no Alabama que é acusado de ter assediado sexualmente várias adolescentes nas décadas de 1970 e 1980 – Moore insiste que vai levar a sua candidatura ao Senado até ao fim e Franken afirma que não se vai demitir do Senado.

"Não, não. A Comissão de Ética está a investigar o caso e eu vou colaborar totalmente. Estou decidido a trabalhar o mais possível para o povo do Minnesota", disse o senador à rádio pública do Minnesota.

Um senador só pode ser expulso com os votos de dois terços do Senado, uma votação difícil de obter numa câmara em que raramente um dos dois partidos tem uma maioria tão alargada. Ainda que um dos partidos tivesse uma maioria de dois terços, o senador Al Franken (e Roy Moore, se for eleito em Dezembro) dificilmente seriam expulsos: a última vez que o Senado expulsou um dos seus foi em 1862. Entre 1861 e 1862 foram expulsos 14 senadores, todos do Partido Democrata, e todos por apoiarem a revolta dos estados da Confederação; antes disso houve apenas uma outra expulsão, em 1797, por traição e conspiração para ajudar os britânicos a invadirem a Florida, então dominada por Espanha.

Mas o futuro de Al Franken pode passar pela demissão, se a Comissão de Ética recomendar a expulsão: nos casos em que isso aconteceu, os senadores que corriam sérios riscos de virem a ser expulsos acabaram por se demitir para não terem de passar por essa humilhação. De todos os casos, só um é comparável ao de Al Franken: em 1995, o senador Bob Packwood, do Partido Republicano, demitiu-se antes da votação no Senado depois de ter sido acusado de assédio sexual por 19 mulheres.

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