Associação de conservação da natureza usa pássaros para reflorestar Portugal

Projecto aproveita comportamento dos gaios, que transportam e escondem entre três a cinco mil bolotas no período entre o Outono e a Primavera, para semear carvalhos. Lançada campanha de crowdfunding para colocar no terreno ideia que usa uma técnica “simples e barata”.

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Wikimedia commons

A Montis, associação ligada à conservação da natureza, vai usar gaios para a sementeira de carvalhos em terrenos que estão sob a sua gestão. Trata-se de um projecto que aproveita o comportamento destes pássaros, que são conhecidos por arrecadarem milhares de bolotas, para a reflorestação de zonas com menor densidade de árvores. A técnica é simples e envolve a colocação de tabuleiros em pontos altos para que os gaios possam ir buscar as bolotas e transportá-las para os seus esconderijos. Pelo caminho, as que caírem, assim como as que ficam esquecidas, vão dar origem a novas árvores.

A vantagem é que de uma forma “simples e barata” a mata é reflorestada e até nos locais de difícil acesso, como explica Henrique Pereira dos Santos, presidente da Montis. “Não é uma técnica ideal para zonas queimadas, mas pode ser importante para zonas onde só há pinheiro ou eucalipto e assim introduzir o carvalho”, refere.

O projecto é para ser colocado no terreno no próximo Outono, estação favorável para a apanha de bolota, e a reflorestação é para ser feita nas zonas de Vouzela e S. Pedro do Sul (distrito de Viseu), Arouca (Aveiro) e Montemor-o-Novo (Alentejo).

“Os gaios gostam de arrebanhar tudo, de tal maneira que numa época conseguem arrecadar entre três a cinco mil bolotas. Guardam-nas em vários sítios e, na maior parte das vezes, esquecem-se delas. É este comportamento que pretendemos usar”, esclarece. Acrescenta ainda que como se tratam de “pássaros selectivos” que só guardam as bolotas boas, os resultados serão mais eficazes.  Por outro lado, como os tabuleiros vão ser colocados em pontos altos, evita-se que outros animais comam as sementes e afasta-se o factor concorrência.

Esta técnica, com resultados positivos no centro da Europa, começou a ser utilizada já este ano pela Montis mas a uma escala menor. “Os primeiros ensaios deste ano são pouco conclusivos, foram colocados dois tabuleiros experimentais, um dos quais ardeu em 15 de Outubro, e foram feitos com tabuleiros artesanais”, conta Henrique Pereira dos Santos.

Para a campanha do próximo ano, a associação vai usar tabuleiros produzidos pela Toscca, uma das empresas da zona industrial de Oliveira de Frades que foi afectada pelos fogos de Outubro.

“Vamos fazer o acompanhamento de todo o processo para perceber de que forma os gaios acedem às bolotas, quando e de que forma. Os resultados serão depois divulgados para que qualquer pessoa possa usar a técnica onde entender”, anuncia o presidente da Montis.

Apoio através do crowdfunding

A Montis lançou uma campanha de crowdfunding (financiamento público) para colocar no terreno o projecto que pretende reflorestar partes de Portugal. Até 15 de Dezembro, pretende angariar 2300 euros para fazer face aos gastos que envolvem a aquisição dos tabuleiros e de material fotográfico.

Todo o dinheiro angariado que exceda o montante estabelecido para a campanha será aplicado na recuperação pós-fogo do Parque Natural Vouga-Caramulo.

Criada em 2014, com sede em Vouzela, a associação, que tem cerca de 350 sócios, tem como objectivo central gerir territórios, garantir o desenvolvimento dos processos naturais, promover a conservação de espécies autóctones, gerir de forma “inteligente” os fogos florestais e outros riscos naturais e aumentar o valor de mercado da biodiversidade.

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