Hipsters e tradição

As tradições são aventuras que precisam de ser escolhidas para serem seguidas como deve ser.

É pena haver poucos hipsters em Portugal. Os hipsters são os salvadores das nossas tradições – e das tradições que não são nossas, não vá a nossa vida tornar-se monocordicamente nacionalista.

Os hipsters sabem que para se salvar uma tradição é preciso praticá-la de uma maneira comercialmente viável. O que é bom tem de ser pago – e
bem pago. A tradição, na cabecinha de muita gente, ainda é a velhinha que passa dez horas a fazer coscorões e depois vende-os a 2 euros a dúzia.

A Direcção-Geral da Agricultura e do Desenvolvimento Rural tem mantido o seu monumental inventário de produtos tradicionais portugueses. Como
dono de dois grandes volumes de fotocópias da obra original é um alívio passear pelo site, descobrindo delícias e vendo vídeos sobre com se faz uvada e outros petiscos de que, para vergonha e surpresa minha, nunca ouvi falar.

O site, que é literalmente magnífico, está cheio de centenas de ideias para quem quer abrir um negócio, aprender umas coisas interessantes ou
simplesmente verificar a inegável riqueza gastronómica do nosso país, apesar de estar tão escondidinha e pouco ou nada apoiada.

Os ingredientes secretos, já se sabe, são o tempo, a paciência e o amor que faz com que se queira fazer as coisas como faziam os avós. Desafio quem quer que seja a ler a longa lista de especialidades da região onde vive e ter a lata de dizer que as conhece todas. É impossível, graças a Deus.

As tradições são aventuras que precisam de ser escolhidas para serem seguidas como deve ser.

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