Oposição contesta sessão de perguntas ao Governo com participantes pagos

Participantes no evento deste domingo, em Aveiro, terão viagens, hotel e pagamento na ordem dos 200 euros, avançou o Sol

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O 1.º aniversário do Governo foi assinalado com evento idêntico em Lisboa Miguel Manso

A sessão de perguntas ao Governo por um painel de cidadãos, agendada para esta tarde (15h), na Universidade de Aveiro (UA), é fortemente criticada por PSD e CDS-PP, que desafiaram o executivo de António Costa a cancelar o evento, para o qual o executivo pagou 36.750 euros à empresa de sondagens Aximage. Tudo, porque, avançou ontem o Sol, os 50 cidadãos envolvidos na iniciativa de “avaliação ao segundo ano do Governo”, organizado pela UA, sob coordenação do professor Carlos Jalali, vão receber, da Aximage, 200 euros, ou mais, além de terem as despesas de deslocação e alimentação asseguradas. “Uma encenação vergonhosa”, classificou a meio da manhã o deputado do PSD Luís Montenegro.

Contactado pelo PÚBLICO, o gabinete do primeiro-ministro enviou uma nota na qual se lê que “os critérios de selecção e o acordo de recrutamento estabelecido com cada um dos participantes, tal como a sua identidade são da exclusiva responsabilidade da Aximage”. Foi a esta empresa, ainda de acordo com o Governo, que foi solicitada “a definição técnica para a constituição de uma amostra adequada e que procedesse à selecção dos participantes, bem como que assegurasse a gestão das deslocações que sejam necessárias efectuar pelos participantes, incluindo a realização de todos os actos necessários ao transporte, alojamento e refeições”.

Apesar das várias tentativas do PÚBLICO não foi possível obter esclarecimentos por parte daquela empresa de sondagens, contratada por ajuste directo, nem de Carlos Jalali, coordenador do centro de investigação do Govcopp da UA, ao qual o Governo solicitou a organização da sessão e a elaboração de um “inquérito quantitativo”. Ao Sol este politólogo afirmou que “os moldes através dos quais a empresa” — a Aximage — fez o recrutamento do painel de intervenientes no estudo não são do seu conhecimento.

Esta sessão de perguntas de cidadãos seguir-se-á ao Conselho de Ministros extraordinário que se realiza de manhã, já em Aveiro, para assinalar os dois anos do Governo. E este enquadramento levou o deputado Luís Montenegro a endurecer as críticas.

O social-democrata lembrou que o que está em causa é “uma reunião formal de um órgão de soberania, não uma acção partidária ou de alguma associação”. O ex-líder parlamentar do PSD declarou ainda que a sessão é “imoral, porque se está a condicionar, para não dizer comprar, a opinião pública; indigna, porque envolve a realização de um conselho de ministros nesta operação, e de uma ligeireza total, porque o Governo assume que os contribuintes pagam”.

Luís Montenegro disse acreditar que o executivo socialista vai “ter a sobriedade e a decência de não condescender com a realização desta sessão”. Mas caso o Governo a mantenha, disse, “o país fica ainda mais elucidado sobre o que são as intenções destes governantes, que preferem manter este teatro mediatizado”. O social-democrata comentou ainda que este tipo de actuação “é uma forma de estar que já não é nova” e “deve ser inspirada na universidade do engenheiro Sócrates, de que António Costa era discípulo, que contratava meninos para mostrar computadores”.

Também a presidente do CDS-PP, Assunção Cristas, afirmou ontem que, se o Governo “tivesse um pingo de vergonha”, cancelaria a sessão que organizou em Aveiro com recurso “às ditas pessoas contratadas”. Cristas fez estas declarações à margem da conferência 25 de Novembro — Passado, Presente e Futuro, organizada pela concelhia da Amadora do CDS-PP.

Não obstante as críticas da oposição, a sessão é para manter, garantiu ao PÚBLICO fonte do gabinete do primeiro-ministro. O Governo garante “desconhecer os conteúdos do estudo, as perguntas que serão feitas pela Universidade de Aveiro e, por maioria de razão, as perguntas que serão colocadas pelos cidadãos ao Governo e considera inaceitável que se questione a independência e isenção de uma universidade de referência, como é a Universidade de Aveiro, e dos seus investigadores”, vinca a nota do gabinete do primeiro-ministro.

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