Governo paquistanês chama Exército após confrontos com islamistas na capital

Partido radical recusa levantar acampamento em Islamabad até que seja demitido ministro a quem acusa de blasfémia.

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Mais de cem pessoas ficaram feridas nos confrontos em Islamabad SOHAIL SHAHZAD/EPA
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Os manifestantes também incendiaram carros da polícia T. MUGHAL/EPA
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O protesto acabou por estender-se a outras cidades do país, incluindo Carachi e Lahore RAHAT DAR/EPA

O Governo do Paquistão pediu a intervenção do Exército em Islamabad, onde há duas semanas o partido radical islamista Tehreek-e-Labaik mantém bloqueada a principal via da cidade para exigir a demissão e prisão do ministro da Justiça, Zahid Hamid, que acusam de blasfémia contra o islão. Este sábado, o protesto degenerou em confrontos entre a polícia e os activistas e religiosos, e acabou por estender-se a outras cidades do país, nomeadamente Carachi, Peshawar e Lahore.

Pelo menos seis pessoas morreram e cem pessoas ficaram feridas nos confrontos em Islamabad, que começaram quando a polícia pôs em marcha uma operação, envolvendo 4000 agentes das forças anti-motim, para dispersar os cerca de mil manifestantes que desobedeceram a uma ordem do tribunal para levantar o “acampamento” que está a paralisar a circulação na cidade há duas semanas.

Imagens transmitidas pela televisão mostravam activistas munidos de paus por detrás de barreiras formadas por pneus, que foram postos a arder. Os manifestantes também incendiaram carros da polícia (65 agentes receberam tratamento hospitalar) e destruíram outros automóveis. “Somos milhares e não saímos daqui. Lutaremos até ao fim”, garantiu à Reuters o porta-voz do partido, Ejaz Ashrafi.

As cenas do local foram apenas divulgadas pela estação estatal: as emissoras privadas foram proibidas de transmitir imagens dos confrontos, e as redes sociais Facebook, Twitter e YouTube foram bloqueadas. Numa declaração ao país, o ministro do Interior, Ahsan Iqbal, disse que o Governo “pediu assistência militar” para assegurar o respeito pela lei e ordem “de acordo com a Constituição”.

Horas antes, o ministro tinha descrito o protesto como uma “conspiração para enfraquecer o Governo” e uma “tentativa para criar o caos no país”. “Lamento muito que haja um partido político cuja mensagem para os seus apoiantes, baseada em princípios muito sagrados, esteja a ser usada numa conspiração para provocar a anarquia”, criticou Iqbal, sem nunca referir expressamente o nome do Tehreek-e-Labaik, um dos dois novos movimentos ultra-religiosos que surgiram nos últimos meses, e que poderão desempenhar um papel fundamental nas eleições marcadas para o Verão do próximo ano.

O partido, liderado pelo conhecido líder religioso Khadim Hussain Rizvi, iniciou o protesto para exigir a demissão do Governo de Zahid Hamid, por este ter assinado a nova lei eleitoral que, entre outras alterações, muda as palavras do juramento de tomada de posse, incluindo onde antes se proclamava Maomé como o último profeta do islão. O Tehreek-e-Labaik equiparou essas mudanças a blasfémia e iniciou o protesto, com a promessa de não desmobilizar até que o ministro seja preso.

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