Quando Fernando Pessoa inspira um hotel

Junto ao Largo do Carmo, o Lisboa Pessoa Hotel escolheu o poeta como tema. No último piso, o restaurante Mensagem tem uma vista privilegiada sobre Lisboa e acaba de estrear a sua carta de Inverno.

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Ricardo Lopes

Do quinto piso do Lisboa Pessoa Hotel vemos a cidade a toda a volta. Os telhados, primeiro os do Chiado, da Baixa, das zonas históricas e, depois, mais ao longe, o rio. É aqui, com esta vista privilegiada, que fica o restaurante Mensagem, com dois pátios exteriores onde se pode beber um copo e olhar Lisboa.

O nome vem da obra de Fernando Pessoa — o poeta está no centro do conceito em torno do qual foi desenhado este hotel, na Rua Oliveira ao Carmo, a poucos metros do Largo do Carmo, num edifício de escritórios que se chamava também Pessoa. Terá sido isso, e, claro, a ligação do poeta a esta zona da cidade, a levar à ideia de fazer dele o tema do hotel. À entrada do restaurante há uma cópia da Mensagem de Pessoa — que em breve será uma edição original, comprada em leilão.

É no Mensagem — que começou a funcionar este Verão (o hotel abriu em 2016) — que nos encontramos com António Gonçalves e Dora Simões, da direcção do grupo Lux Hotels, proprietário do Lisboa Pessoa Hotel e de vários outros projectos em Lisboa, Porto, Fátima e Évora. “A ideia aqui é abrir as portas ao turismo literário”, explica Dora. “Sabemos, por exemplo, que no Brasil há um grande carinho por Fernando Pessoa.”

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Ricardo Lopes

Quando se tem vários hotéis — e o Lisboa Pessoa Hotel pertence à linha “be unique”, ou seja, hotéis com um tema — há uma preocupação em diferenciar uns dos outros. “Porque é que o cliente quer vir ao Pessoa Hotel?”, pergunta António. “Se for alguém que se interessa pelo tema, quando tiver que escolher um alojamento só pode vir para aqui.”

E se o fizer, terá não apenas quadros relacionados com Pessoa e a sua obra nos quartos, objectos inspirados pelo poeta à venda na recepção, uma máquina de escrever antiga pousada sobre uma mesa, uma biblioteca/sala de reuniões com livros de e sobre Pessoa nas estantes, propostas de passeios pela cidade que levem aos lugares de Pessoa e, no futuro, uma programação cultural no próprio hotel — que estabeleceu uma parceria com a Casa Fernando Pessoa (de onde vêm, aliás, as peças à venda). “Tudo isto são coisas que eles não vão encontrar noutro hotel”, sublinha António.

Discreto, apesar de ser muito central, o Pessoa Hotel não se encontra numa rua de passagem. Quem está no Largo do Carmo e começar a subir a Rua da Oliveira ao Carmo encontra primeiro à esquerda o Carmo Hotel, que pertence também ao grupo Lux. É preciso andar mais alguns metros para ver, desta vez à direita, a fachada de azulejos cinzentos do Pessoa.

O aluguer do edifício surgiu como uma oportunidade quando António e os outros sócios andavam à procura de espaços em Lisboa. Mas foi preciso fazer obras profundas para o adaptar, tirando o melhor partido de um espaço que é comprido e desnivelado em relação à rua (o que explica que a recepção, por onde entramos a partir da rua, seja na realidade o piso 2).

O projecto de arquitectura, da Promontório Arquitectos, permitiu a criação de 75 quartos, de decoração sóbria e confortável, e ainda de um spa, que oferece um tratamento personalizado na área do exercício físico e reabilitação e que está aberto ao público que não esteja instalado no hotel. O desafio foi maior no restaurante no 5.º piso — ao contrário do que acontece no Carmo Hotel, a opção aqui foi não ter porta aberta para a rua. Mas, em contrapartida, tirar partido da vista sobre Lisboa.

E, dado que o restaurante também enfrenta a contingência de o edifício ser mais comprido do que largo, a solução foi, para além dos pátios exteriores e do um espaço para uma mesa maior, criar uma série de nichos acolhedores que permitem uma refeição mais privada e que oferecem cada um uma janela.

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Ricardo Lopes

Para a carta, o chef Manuel Ferreira (que é apoiado na cozinha pelo chef residente Diogo Lacerda e na sala por Pedro Correia) quis inspirar-se em Fernando Pessoa mas sem carregar demasiado na nota. Assim, para o menu de Inverno, que acaba de entrar, a inspiração passa sobretudo pela “tradição lusitana e a alma portuguesa”, explica, com pratos como petinga panada com maionese de pimentos, bacalhau grelhado com couves portuguesas ou tacho d’avó com arroz de forno com cogumelos e açafrão, que acompanha uma codorniz recheada de alheira de caça.

O chef destaca ainda, já numa linha mais internacional, mas sempre de pratos “acolhedores”, o cremoso de três cebolas com escalope de foie-gras e redução de Moscatel de Setúbal, o risotto crocante de açafrão com guisado de lulas e o tornedó de novilho com empada de ossobuco caseira. Os pratos têm preços entre os 15 e os 20 euros e as entradas entre os 4,50 euros e os 11 euros.

Para a sobremesa, o dilema poderá ser entre, por exemplo, um petit gâteau de caramelo salgado com gelado de amendoim e nougat, uma tarte tatin de marmelo com gelado de baunilha ou uma torta de Azeitão com gelado de canela.

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