Israel-Palestina, um jogo de futebol que nunca aconteceu

O ranking da FIFA colocou pela primeira vez os palestinianos à frente dos israelitas, mas ainda está por realizar um jogo entre as duas selecções.

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Em Hebron, os jogadores palestianos celebraram um triunfo por 10-0 sobre o Butão Mussa Qawasma/Reuters

Por razões óbvias, e mesmo durante as alturas em que a paz parecia mais estável, nunca houve um jogo de futebol entre as selecções de Israel e da Palestina. Nem um jogo particular que fosse, muito menos em oficiais, já que os israelitas, para efeitos futebolísticos, são europeus, enquanto os palestinianos são da família do futebol asiático – são ambos membros da FIFA, mas também nunca se cruzaram numa competição de selecções. Nunca houve um confronto directo em campo de 11 contra 11 para definir quem era o melhor, sempre se assumindo que a selecção israelita seria superior, pela convivência de selecções e clubes no futebol europeu e pela experiência internacional de alguns dos seus jogadores. Com a mais recente actualização do ranking FIFA, esse estatuto é menos evidente.

Pela primeira vez desde que esta hierarquização foi instituída em 1992, a selecção da Palestina está à frente da selecção de Israel. Os palestinianos subiram duas posições e chegaram ao 82.º (11.º da Ásia), a sua melhor classificação de sempre, enquanto os israelitas desceram 16 lugares, para o 98.º (43.º na Europa), que é a sua pior classificação de sempre. Claro que são posições construídas em patamares competitivos diferentes. Israel estava num grupo impossível nas qualificações europeias para o Mundial (com Itália e Espanha) e ganhou quatro dos dez jogos, enquanto a Palestina (que ficou muito cedo pelo caminho no apuramento para o Mundial) está a cumprir sem falhas a qualificação para a Taça da Ásia (que já garantiu, com uma jornada por disputar), dominando um grupo com Omã, Maldivas e Butão.

E por isto não é fácil dizer que uma selecção é melhor que a outra apenas pelo “ranking” FIFA – que tem em conta os jogos disputados nos últimos quatro anos, com variantes de acordo com a importância do jogo, a classificação do adversário e a confederação a que o adversário pertence. Mas é indesmentível que uma selecção está a crescer e a outra está em crise profunda. Em 1998, a Palestina foi aceite como membro da FIFA e começou por baixo, no 184.º, entrando no top 100 pela primeira vez em 2014 quando se qualificou para a Taça da Ásia. Já Israel, que nunca baixou dos 100 primeiros, chegou a ser 15.ª do “ranking” no início de 2008, depois de uma grande campanha para o Euro desse ano, em que ficou a um ponto do apuramento – desde que passou a fazer parte da UEFA, tendo sido expulso da confederação asiática em 1974, Israel nunca se qualificou para Europeus ou Mundiais.

Mas há mais nas relações futebolísticas entre Israel e Palestina para lá dos rankings FIFA, a começar pelo jogo que as duas selecções nunca disputaram entre si. Sepp Blatter bem tentou dinamizar um “jogo da paz” em 2015, mas não passou de uma declaração de intenções do então presidente da FIFA. No palco do organismo que tutela o futebol mundial, o conflito é permanente, com a federação palestiniana a pedir a suspensão da federação israelita pelas seis equipas israelitas baseadas nos territórios ocupados da Cisjordânia e que jogam nos campeonatos de Israel, uma situação que considera ilegal à luz dos regulamentos da FIFA.

Depois de análise demorada da situação, a FIFA optou recentemente por não tomar qualquer posição sobre o assunto, algo que Israel considerou como uma “grande vitória”, acusando as autoridades do futebol palestiniano de quererem usar o desporto com fins políticos. Os palestinianos avançaram para o Tribunal Arbitral do Desporto e têm uma audição em Lausana na próxima semana. Esta é uma das várias queixas futebolísticas da Palestina, que já teve alguns jogadores detidos pelas autoridades israelitas por suspeitas de terrorismo, para além das dificuldades em levar alguns dos seus jogadores para jogos foram dos territórios palestinianos

Com esta mudança na hierarquia, volta a falar-se de um jogo entre as duas selecções. A federação israelita, através de um porta-voz citado pela agência AFP, diz que deseja “o melhor para os palestinianos, como sempre” e que Israel estaria disponível para esse jogo e “que ganhe o melhor”. Em entrevista ao site israelita Ynetnews, Jibril Rajoub, presidente da federação palestiniana, não tem dúvidas sobre quem ganharia esse jogo: “A nossa equipa é claramente melhor e ganharíamos facilmente.”

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos. Ouça também o podcast

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