“O legado de Portas é uma mais-valia”

No dia em que começa a Escola de Quadros do CDS, o líder da bancada afirma que o partido tem feito o seu caminho e que é possível o partido replicar no país o resultado obtido em Lisboa.

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LUSA/MÁRIO CRUZ

Nuno Magalhães, que há seis anos está à frente da bancada centrista, rejeita que a posição do CDS sobre os professores seja dúbia e defende que o Governo “ficou refém das suas palavras sobre os professores”.

A posição do CDS sobre o descongelamento das carreiras dos professores parece dúbia: diz que eles têm razão mas que há circunstâncias orçamentais. Em que é que ficamos?
Não chamaria dúbia mas sim séria e responsável. Não foi o CDS, foi esta maioria e este Governo que decretaram o fim da austeridade e que estamos – e não estamos – num ciclo de recuperação económica nunca vista. Não foi o CDS, foi esta maioria que prometeu tudo a todos ao mesmo tempo. Se me permite a expressão, são reféns das suas palavras. O que a presidente do CDS disse é que há fundamentos atendíveis para que os professores possam progredir na carreira, mas também para as forças de segurança e para os magistrados. O que distingue estes dos professores? Mais uma vez se vê que o Governo não governa, gere a sua circunstância, gere a sua "geringonça". Governa de acordo com maior ou menor ruído das ruas ou com mais ou menos murros na mesa do PCP e do BE, arranjando pensos rápidos para problemas que são sérios.

A economia cresceu, as metas do défice foram atingidas nos últimos dois anos. A narrativa da direita foi derrotada?
Não. A economia está a crescer ainda que a desacelerar. Ainda bem que Portugal saiu do procedimento por défice excessivo e que o défice está dentro dos limites europeus. O que importa perguntar é o custo. E o custo são as cativações, que são cortes ou, se quiser, retenções de despesas. Que não são mais nem menos do que austeridade, só que austeridade à esquerda. E o que questionamos é o caminho: podíamos estar a crescer mais, se apostássemos mais nas exportações, se desagravássemos mais os impostos para as empresas, descendo o IRC.

Vê com bons olhos que se forme um projecto alternativo, um bloco à direita?
O PSD e CDS têm histórias e protagonistas diferentes e ideias diferentes. E quando são chamados a governar fazem dessas divergências convergências. Acho isso positivo. O PSD não é um adversário, mas sim um parceiro. Mas acho que o CDS tem feito o seu caminho, e bem, e estou convicto do trabalho que estamos a fazer que é diferente do do PSD, com todo o respeito.

O CDS deve ir a eleições sozinho?
É muito cedo, faltam muitos congressos. Falta nomeadamente o nosso, em que deve ser discutida a estratégia para os próximos dois anos.

Entre os dois candidatos à liderança do PSD, com qual seria mais fácil a aproximação ao CDS?
Eu trabalhei quer com dr. Pedro Santana Lopes quer com dr. Rui Rio e tenho uma boa relação com ambos. Mas o futuro do PSD pertence ao PSD.

Considera que o CDS pode replicar o resultado que teve em Lisboa a nível nacional?
Porque não? O resultado de Lisboa foi excelente, a meta do CDS é crescer, não impõe nenhum limite.

Com a liderança de Assunção Cristas, o CDS deixou de ter nichos e passou a fazer oposição mais com propostas, mas há quem considere que não são associadas ao partido. Há um desajustamento de comunicação que precisa de ser corrigido? 
Pode ser sempre melhorado. Agora, não concordo com essa análise. Há, de facto, uma abordagem que tem a ver com a própria liderança, na pessoa de Assunção Cristas, que acrescentou, não subtraiu. Acrescentou outro tipo de abordagens, como o envelhecimento activo, a demografia. O CDS continua a ser um partido que as pessoas identificam com a agricultura – com a lavoura - com as forças de segurança, com o desagravamento fiscal para empresas e com a área da educação. Há uma linha de continuidade e ainda bem.

Mas esse é um legado é de Paulo Portas…
Qual é o problema de ter bons legados? O legado de Paulo Portas é uma mais-valia.

Tem-se notado uma sintonia entre o CDS e o Presidente da República. Isso beneficia o partido?
Há uma relação institucional impecável entre o Presidente da República e o CDS. Até por esse respeito, nós, sempre que temos posições que entendemos dever comunicar ao Presidente da República, fazemo-lo. Fizemos assim quando pedimos a demissão da ministra da Administração Interna e do ministro da Defesa e quando entendemos que íamos utilizar a moção de censura face a um acontecimento trágico. Poderá haver convergência em determinado tipo de momentos e de posições, vejo isso como a decorrência normal e natural da democracia, não como uma estratégia conjunta. Isso nunca houve.

As medidas anunciadas pelo Governo para a reconstrução após os incêndios são suficientes?
Em primeiro lugar, as medidas foram todas, infeliz e tragicamente, tomadas a más horas. Em segundo lugar, não quero ser excessivamente peremptório, mas não deixo de referir que as verbas anunciadas são insuficientes, nomeadamente no que toca à reconstrução das empresas. Parece-me que está a demorar demasiado tempo e o Governo estar a discutir se indemniza ou não os feridos graves, do ponto de vista da atitude, é preocupante.

Vai participar na Escola de Quadros para falar sobre terrorismo. Até que ponto essa questão condicionou a actuação das instâncias europeias sobre as finanças dos países do Sul como Portugal?
A Escola de Quadros é muito importante, já é uma tradição dos jovens que se estão a aproximar do CDS até pelo trabalho meritório que a Juventude Popular tem feito. Quanto à sua pergunta, quem como eu assistiu a duas crises – refugiados e terrorismo – e a reuniões do PPE sabia o que se falava antes e depois de 2014, é evidente que a questão do défice e das contas ficou para segundo lugar.

É líder da bancada desde 2011. Tem vontade de continuar?
Sou líder da bancada desde 2011 e seguramente até 2018 que é o meu mandato. Enquanto eu quiser – e para já quero – e os meus colegas quiserem, continuarei. Mas ainda falta muito tempo para acabar o meu mandato, no primeiro trimestre de 2018. Nessa altura é que a situação terá de ser avaliada por mim, pela presidente e pelos meus colegas de bancada. 

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