Esta é uma história de amor por Portugal e pelo ser português, que começa quando as luso-descendentes Ana Sofia Oliveira e Dina Carvalho Sanches, filhas de emigrantes portugueses em Paris, sentiram aguçar a curiosidade sobre o que seria um Portugal moderno que desconheciam de todo. Não poderia ser o país com dificuldades económicas de onde os pais saíram à procura de uma vida melhor. As duas amigas quiseram saber mais e acabaram tão apaixonadas pelo país que, há meio ano, criaram a marca My Genuine Portugal para promover os produtos portugueses no mundo. 

Voltando à história de vida de Ana, 38 anos, natural de Paris, e de Dina, 49, da Figueira da Foz, que aos dois anos se mudou com os pais para a capital francesa, as duas fizeram um percurso muito diferente até se conhecerem. Cruzaram-se na Cap Magellan, a associação de jovens lusodescendentes que Dina ajudou a criar aos 23 anos, era então 24 de Novembro de 1991. “Queria apresentar um Portugal mais actual que, na altura não chegava cá”, lamenta Dina que conseguiu reunir jovens franceses, lusodescendentes ou lusófilos, para promoção do intercâmbio entre França, Portugal e os países de língua portuguesa. “Foi a melhor coisa que me poderia ter acontecido. Juntámos luso-descendentes que partilham o desejo de ter conhecido um Portugal mais moderno que não chegava a Paris”, conta Dina.

As duas amigas lembram-se bem que tinham de falar francês em casa para se integrarem o mais possível no país. Era uma realidade completamente diferente dos dias de hoje, com os portugueses a trabalharem mais na construção civil e na área das limpezas. Agora, já assumem profissões de destaque, como o marido de Dina, Hermano Sanches Ruivo, o único vereador português na Câmara de Paris.

Como a maioria dos filhos de emigrantes, Ana e Dina vinham a Portugal durante as férias. “Gozavam tanto o meu sotaque”, conta Ana, entre risos, lembrando: “Era um mundo completamente desconhecido, não me identificava com nada de Portugal e nem sequer percebia o que era ser português”. A parisiense só começou a compreender quando, aos 19 anos, teve contacto com a associação de jovens luso-descendentes criada por Dina. “Descobri Portugal e depois comecei a envolver-me de forma mais activa na associação: organizei concertos e conferências, e participei no programa de rádio da comunidade portuguesa”, descreve Ana.

Foi quando Ana começou a sentir uma necessidade de saber mais do que era ser português. Num ápice, as duas amigas organizaram uma série de eventos, como fóruns sobre o eixo França/Portugal, de formação, emprego e cultura. “Conseguimos apoio da Embaixada de Portugal que apadrinhou a associação e organizámos os primeiros concertos com cantores portugueses”, recorda Dina. As duas lembram-se bem dos GNR pisarem o palco com uma sala completamente lotada. “Mas o concerto dos Resistência foi um marco, porque identificávamo-nos muito com o que eles representavam, na altura, algo de muito português para nós. Foi memorável”, recorda Ana. Por isso, a banda voltou a actuar o ano passado, durante as comemorações das bodas de prata da associação, no Bataclan, a sala de concertos que foi alvo de um dos atentados da noite de 13 de Novembro de 2015. “Os Resistência regressaram para um concerto em homenagem às vítimas do atentado”, conta Dina, emocionada. 

Dina e Ana juntaram sinergias e criaram, há meio ano, a marca My Genuine Portugal para promover os produtos portugueses e conseguir colocá-los nas prateleiras dos hipermercados, em lojas gourmet e restaurantes, para que se compre, por exemplo, um queijo da Serra da Estrela com a mesma facilidade que um mozarela italiano. A primeira acção foi em Paris com produtores de vinhos e outros produtos típicos de cinco regiões portuguesas no terceiro maior evento de Paris, a festa das vindimas de Montmartre, que se realiza há 84 anos. Segue-se Londres. Ana e Dina querem pôr Portugal a conquistar o mundo pela boca.

A jornalista foi a Paris a convite da My Genuine Portugal