Madeira regista quase um terço dos casos de mulheres assassinadas em contexto familiar

Foram assassinadas cinco mulheres das 18 registadas pelo Observatório das Mulheres Assassinadas. A União de Mulheres Alternativa e Resposta da Madeira afirma que há mais quatro casos que não foram noticiados.

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Nem todas as situações foram de violência doméstica, a UMAR apelida os casos de "violência de género" paulo pimenta

A Madeira foi a região do país com o maior número de mulheres assassinadas este ano em contexto familiar, totalizando cinco dos 18 casos registados pelo Observatório das Mulheres Assassinadas (OMA).

Guida Vieira, da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) da Madeira, revelou que há mais quatro casos que não foram noticiados, o que faz subir para nove o número de mulheres assassinadas na Madeira, que registou este ano o maior número de sempre de situações deste tipo.

"Foram assassinadas de maneira bárbara e nós ainda temos outros números que não foram publicados pela comunicação social" e, como tal, o Observatório das Mulheres Assassinadas não pode pronunciar-se sobre esses casos porque se baseia nos crimes noticiados na imprensa, explicou a responsável, que também é conselheira para a igualdade no concelho do Funchal.

Assim, há cinco casos oficiais e quatro não oficiais porque "os agressores não foram identificados", disse Guida Vieira, sublinhando ter conhecimento de que estas quatro mortes estão relacionadas com "processos de violência doméstica graves".

"Isto quer dizer que os dados públicos não são a realidade", adiantou, anunciando que a UMAR Madeira vai fazer uma declaração pública para alertar para a necessidade de ser feito "um trabalho de investigação", no sentido de perceber "porque é que estes crimes não são divulgados e o autor não é identificado".

Em relação aos casos divulgados pelo observatório, Guida Vieira adiantou que nem todos os casos foram situações de violência doméstica. "Nós consideramos que foi mesmo violência de género exercida sobre mulheres, porque houve um sobrinho que matou uma tia, um filho que matou a mãe", adiantou.

Para Guida Vieira, "foi um ano negro para a Madeira em todos os sentidos".

"Não é porque o tema não tenha sido debatido, que a sociedade não esteja mais aberta, nós achamos que é sobretudo uma questão que tem a ver muito com a mentalidade fechada de ser uma ilha, uma região insular", sustentou. "Ainda temos gente muito antiga, há homens que sentem que podem cometer estes crimes atrozes", disse, frisando que a maior parte das mulheres eram mais velhas.

Para a responsável, é preciso "mudar a mentalidade em relação a esta situação" e apostar num trabalho de prevenção juntos dos mais novos para que esta situação possa mudar.

Segundo dados do relatório, a que a Lusa teve acesso, o concelho de Santana na Ilha da Madeira, registou dois femicídios, seguido dos demais concelhos, cada um com um registo.

A nível nacional, o distrito do Porto registou quatro homicídios, enquanto os distritos de Aveiro, Braga, Bragança, Évora, Faro, Leiria e Viana do Castelo registaram um cada um.

Até 20 de Novembro, o OMA contabilizou um total de 45 órfãos após femicídio consumado, adianta o documento divulgado a propósito do Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres, que se assinala a 25 de Novembro.

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