Putin propõe congresso pela paz na Síria, Irão e Turquia concordam

Presidente russo afirma-se cada vez mais como a figura dominante na resolução do conflito sírio.

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Os três países já negociaram uma trégua entre as forças de Assad e os rebeldes LUSA/MICHAEL KLIMENTYEV / SPUTNIK / KREMLIN POOL

A convocação de um congresso popular para a paz deve ser o primeiro passo para o restabelecimento do diálogo entre o Governo de Damasco e os rebeldes anti-Assad, as duas partes que ainda combatem a guerra civil da Síria, concordaram esta quarta-feira os presidentes da Rússia, da Turquia e do Irão, reunidos em Sochi em mais uma tentativa de intermediar uma solução política que permita pôr fim ao conflito que desde 2011 já matou mais de 400 mil pessoas.

A ideia de Moscovo, e que mereceu o acordo dos líderes da Turquia e do Irão, Recep Erdogan e Hassan Rouhani, passa por realizar em Sochi um processo de diálogo paralelo às negociações em curso em Genebra, organizadas pelas Nações Unidas, e que se encontram num impasse. Os três países, que conseguiram negociar com sucesso uma trégua ainda em vigor entre as forças de Assad e os grupos rebeldes de oposição, acreditam que podem estender os seus esforços diplomáticos e finalmente alcançar um compromisso para o fim definitivo das hostilidades e uma transição pacífica na Síria.

Num comunicado comum, Rússia, Irão e Turquia estenderam um convite ao Governo e à oposição síria a participar – “com uma postura construtiva” – num congresso pela paz, ainda sem data marcada. “Nesse congresso serão revistas todas as questões fundamentais da agenda política nacional síria: o acerto das bases para a futura estrutura do Estado, a adopção de uma nova Constituição e a realização de novas eleições sob a supervisão das Nações Unidas”, explicou Vladimir Putin. “Será uma cimeira fixada em resultados. Acredito que serão tomadas decisões muito importantes”, completou o Presidente turco.

Antes de reunir com Erdogan e Rouhani – a Turquia está do lado da oposição, cuja liderança começou por se instalar em Istambul, enquanto o Irão apoia o regime de Damasco – Vladimir Putin recebeu em Sochi o Presidente da Síria, Bashar al-Assad. “A liderança síria está comprometida com o processo de paz, com reformas constitucionais e com a convocação de eleições”, garantiu o Presidente russo, anfitrião da conferência tripartida e cada vez mais a figura dominante na resolução do conflito sírio. “Depois de assegurar a vitória militar do Governo de Damasco, Putin está agora disposto a assumir a liderança dos esforços internacionais para acabar com a guerra nos termos de Assad”, escreveu a Reuters.

Foi a campanha aérea da Rússia, em apoio das forças de Assad, que mudou o sentido da guerra: o exército do Presidente Assad controla agora praticamente todo o território do país, com a excepção de algumas bolsas de resistência da oposição, que já não tem qualquer hipótese de reverter a situação do ponto de vista militar. No início do mês, o Presidente sírio declarou vitória total sobre os jihadistas do Daesh.

Entretanto em Riad, mais de uma centena de representantes dos principais grupos da oposição iniciaram as suas próprias conversações para concertar posições e restabelecer uma frente negocial unida, dois dias depois da inesperada demissão do líder do Alto Comité de Negociação (HNC), Riyad Hijab, que pôs em causa a participação da delegação anti-Assad na nova ronda negocial de Genebra.

As conversações em Genebra têm por base um plano, desenhado pelas potências que apoiam a oposição ou o regime de Assad, para o estabelecimento de um governo de transição, a aprovação de uma nova Constituição e a realização de eleições – o mesmo guião que Putin pretende adoptar no congresso de Sochi. A saída de cena de Hijab, que sempre recusou qualquer solução para a transição política que não passasse pelo total afastamento de Bashar al-Assad, foi vista pela Rússia como um desenvolvimento positivo, uma vez que poderia ajudar para “unificar as diferentes facções [da oposição] em torno de uma plataforma mais realista”. No entanto, segundo a Al Arabya, os representantes reunidos em Riad não pretendem desistir da sua exigência de que o Presidente da Síria deixe o poder.

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