“O ambiente fiscal em Portugal não permite contratar pilotos como gostaríamos”, diz director da Easyjet

Companhia low cost está a tentar contornar o “Brexit” e tenciona aumentar o número de aviões com base em Portugal.

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Easyjet teve uma taxa de crescimento global de 9,7%, com mais de 80 milhões de passageiros Renato Cruz Santos

Num ano em que o mercado da aviação civil enfrentou alguma turbulência e o modelo das low cost começou a dar sinais de fragilidade e até, nalguns casos, de esgotamento – com a falência de companhias como a Air Berlin e a Monarch –, a Easyjet fechou as contas com recordes tanto no número de passageiros transportados, como nas receitas.

Se na operação global do exercício de 2016/2017 (terminado, para a britânica, em final de Setembro último) a Easyjet assinalou uma taxa de crescimento de 9,7% e mais de 80 milhões de passageiros transportados, o mercado português revelou um comportamento acima da média, com uma taxa de crescimento de 20%, com mais de seis milhões de passageiros transportados.

“No ano passado, comemorámos o facto de termos ultrapassado os cinco milhões. Este ano já vamos em 6,2 [milhões]. Estamos, obviamente, muito satisfeitos”, disse ao PÚBLICO José Lopes, responsável pela Easyjet Portugal.

Outro dado revelado por José Lopes, e que é um marco muito relevante para a companhia, é “o grau de fidelização” sentido no mercado português: “A Easyjet já transportou 60 milhões de passageiros em Portugal. Ficamos muito satisfeitos por perceber que três em cada quatro passageiros que voa na Easyjet já não o faz pela primeira vez”, revela.

Um indicador dos resultados no mercado nacional é a taxa de crescimento de 15% registada em Lisboa e de 20% em Faro. Se no caso do aeroporto da capital o número de passageiros movimentados chegou aos 2,5 milhões, no Algarve já atingiu os 1,6 milhões de passageiros – o mesmo número que foi movimentado no aeroporto do Porto, que teve uma taxa de crescimento mais modesta, de 9%. De maior exuberância foi o crescimento registado no Funchal, com 23% de taxa de crescimento e quase 600 mil passageiros transportados.

“A relevância do Reino Unido como mercado emissor tanto para o aeroporto de Faro como para o do Funchal não pode deixar de impor às autoridades portuguesas uma atenção redobrada no acordo que há-de resultar da negociação final do ‘Brexit’”, disse o director da Easyjet.

Para contornar as previsíveis dificuldades, e continuar a ser um operador com licença europeia, a Easyjet abriu uma sede na Áustria com 12 aviões registados, e pretende alargar estes registos a mais cem aviões, ainda sem contar com aqueles que pretende adquirir à Air Berlin, falida, cujo processo está ainda a ser analisado pelas autoridades de concorrência.

O desempenho no território nacional foi obtido numa altura em que “a companhia continua a tentar aumentar o número de aviões que tem baseados em Portugal”, mas ainda sem sucesso. “O ambiente fiscal em Portugal não permite que as propostas salariais sejam competitivas. Queríamos ter mais do que cinco aviões em Lisboa e três no Porto, mas não está a ser possível contratar mais pilotos como gostaríamos”, limitou-se a comentar José Lopes. Explicou que têm sempre de usar activos (isto é, aviões) que estão sediados noutras bases. “Já nem falamos na concorrência que existe nos mercados asiáticos, que oferecem condições aos pilotos muito competitivas. Mesmo na Europa enfrentamos essas dificuldades”, admitiu.

Não conseguindo alargar o número de aviões baseados, e com isso aumentar a oferta de cobertura do território nacional, a empresa diz que tem procurado melhorar a qualidade dos seus produtos, reforçando a oferta onde há mais procura. Por isso os aviões que estavam a voar para Ponta Delgada deixaram de o fazer, para reforçar a oferta de ligação do território nacional para Lyon e para Bordéus.

A empresa não se compromete com nenhuma meta para o ano de 2018, mas José Lopes não se furta a dizer que ela terá de ser de crescimento. Relativamente ao aumento da capacidade aeroportuária da região de Lisboa e questionado sobre se já conhece propostas de novas taxas que poderão ser cobradas para alargar as obras de ampliação da Portela e de adaptação do aeroporto complementar do Montijo, José Lopes afirmou não conhecer ainda nenhuma proposta. Mas consegue prevê-las, recordando que o modelo regulatório português permite que haja um aumento de taxas cobradas quando há um aumento de tráfego, e que isso, de algum modo, desvirtua o equilíbrio que devia haver na repartição de resultados, penalizando “o esforço que está a ser feito pelas companhias de aviação”.

José Lopes sublinhou “o modelo de negócio resiliente” em que trabalha a Easyjet, permitindo-lhe fechar o ano fiscal de 2016/2017 com resultados positivos, apesar do clima cambial adverso. “Batemos o nosso recorde de receitas [vendas], com um aumento de 8%, que corresponde a uma melhoria de um ponto percentual relativamente ao período homólogo”, para 5,65 mil milhões de euros, sublinhou José Lopes. O responsável frisou que estes resultados foram conseguidos “num ambiente da indústria extremamente desafiante e competitivo, com muita oferta no mercado”.

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