“Sem dúvida” que há pressão da indústria alimentar sobre os nutricionistas

Congresso da Ordem dos Nutricionistas arranca nesta terça-feira, em Lisboa.

Foto
Alexandra Bento diz que não se deve diabolizar a indústria e que é importante que os nutricionistas trabalhem com ela DR

A Ordem dos Nutricionistas decidiu organizar o seu congresso (nesta terça-feira e amanhã, no Centro Cultural de Belém) sem quaisquer patrocínios da indústria alimentar — o tema tinha provocado alguma polémica em Maio, na altura da realização do XVI Congresso de Nutrição e Alimentação, da responsabilidade da Associação Portuguesa dos Nutricionistas, que contou com a presença de várias marcas.

A bastonária, Alexandra Bento, sublinha que é fundamental que a Ordem mantenha a isenção e imparcialidade e que, para isso, não pode receber dinheiro de marcas com interesses comerciais da área da alimentação. Além disso, refere, há oradores que faziam questão de ter no congresso e que recusam falar em eventos patrocinados. A solução para viabilizar o congresso passou por “a própria Ordem alocar uma verba”. O restante será suportado pelo valor cobrado pelas inscrições.

E a pressão da indústria alimentar sobre os nutricionistas é muito grande? “Sem dúvida”, responde Alexandra Bento, mas acrescenta que não se deve diabolizar a indústria e que é importante que os nutricionistas trabalhem com ela. “Um nutricionista que consiga reformular um produto, reduzindo-lhe o sal, por exemplo, pode ter um impacto enorme.”

Por outro lado, a nutrição é uma área em que surgem constantemente no espaço público teorias, muitas vezes contraditórias. Isso afecta a imagem dos nutricionistas? Estes profissionais “não podem deixar que isso aconteça, têm de trabalhar com rigor no seu dia-a-dia”, defende a bastonária. Quanto às diferentes teorias, explica que “a ciência não é estática, é dinâmica, evolui, o que não quer dizer que se contradiga, pode é surgir evidência mais robusta, que explique melhor uma situação.”

Reconhece, contudo, que “há muito mito e falso conceito, porque se trata de uma área de grande interesse económico e muitas vezes interessa criar confusão à sua volta”. Reitera, no entanto, que “os profissionais de saúde têm de se manter apartados destes interesses”.

Sugerir correcção
Comentar