Nem num nem noutro

Sobre o PSD, Marina Costa Lobo só escreve sobre Santana. O que diz mais sobre aquilo que Costa Lobo não queria escrever do que sobre o que realmente escreveu.

Nenhuma profissão deve inibir a opinião e nenhuma opinião deve inibir-se de responsabilidade. Foi, nesse sentido, surpreendente que uma professora com as responsabilidades de Marina Costa Lobo assinasse um artigo cujo título remetia para um partido — o PSD — e cujo conteúdo remetia para um objetivo: tomar partido contra um candidato à sua liderança. Não sei se o fez como militante (talvez seja), como apoiante (poderá ser) ou como cidadã (que evidentemente é).

O problema não é quem Costa Lobo é — eu, por exemplo, não sabia quem era —, mas o toldo de credibilidade com que procura cobrir-se, utilizando argumentos sem qualquer credibilidade. Desde alegações que Pedro Santana Lopes teve o resultado mais baixo no histórico do PPD/PSD, quando tal não é verdade (basta pesquisar na CNE) e parece até querer que o candidato venha relembrar que o seu partido já passou por tempos difíceis e não com ele. Mas isso não é Pedro Santana Lopes, seria apenas pequenez política.

O que, como leitor, não entendo é receber um artigo sobre "o PSD" em vésperas de disputa interna e a alegada analista só referir um candidato. Elaborar um diagnóstico de uma força política quando a sua liderança está em vias de ser decidida já seria duvidoso; ignorar que há dois rumos, aliás bem diferentes, para essa força é só inconsequente. Sobre o PSD, Costa Lobo só escreve sobre Santana. O que diz mais sobre aquilo que Costa Lobo não queria escrever do que sobre o que realmente escreveu.

Em política, o contexto é tudo. Não é preciso ser político ou professora de política para sabê-lo. Comparar circunstâncias eleitorais de um líder confrontado com uma dissolução parlamentar com qualquer outro é quase desonesto — e qualquer um que se tenha apresentado a votos o dirá.

Depois dos tempos recentes, não entender que o carácter excepcional do contexto que se seguiu ao governo de 2005 é irresponsável. É promover a repetição desse contexto e falhar em perceber que não é preciso prometer o inviável para projetar um futuro melhor. Antes pelo contrário.

O inviável, como se viu, não traz grande futuro ao país. É triste que mesmo depois disso — depois de Sócrates —, a suposta massa pensante continue a preferir o supérfluo ao factual. Não é raro um professor (ou uma professora) escolher um lado da História; é preocupante que escolha o lado que arrastou o país para um vazio de credibilidade — sendo a credibilidade, supostamente, o bem mais precioso de um académico...

Eu, que não sou académico mas sou português, sei que de que lado da História fiquei e que História quero ainda ver mudar. E não terá nada a ver com aquilo e com quem governou o país depois de Pedro Santana Lopes ter sido primeiro-ministro. Para escrever sobre isso, era preciso ambicionar debater o PSD e o nosso país, pensar por que é que Santana continua em condições de disputar e ganhar eleições. Marina Costa Lobo, viu-se, não está interessada. Nem num nem noutro.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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