Níveis de radioactividade mil vezes acima do normal reforçam tese de acidente nuclear

Dados oficiais russos parecem apoiar o relatório do Instituto francês de Radioprotecção e Segurança Nuclear, que deu conta de que havia uma nuvem de poluição radioactiva na Europa e que teria origem num acidente numa instalação nuclear na Rússia ou no Cazaquistão na última semana de Setembro.

Foto
O serviço meteorológico russo confirmou a descoberta de "poluição extremamente alta" do ruténio 106 em duas estações meteorológicas na região sul dos Urais Reuters/CARLO ALLEGRI

Confirmam-se os alertas: o serviço meteorológico russo mediu a poluição de um isótopo radioactivo nos Montes Urais e encontrou os níveis quase mil vezes acima do normal. Estes são os primeiros dados russos oficiais a apoiar os relatórios que davam conta da ocorrência de um acidente radioactivo nesta região. A empresa que gere um dos complexos nucleares em causa nega que tenha existido um acidente.

Estes dados vão no mesmo sentido do relatório do Instituto francês de Radioprotecção e Segurança Nuclear (IRSN) que deu conta, a 9 de Novembro, de que havia uma nuvem de poluição radioactiva na Europa e que teria tido origem num acidente numa instalação nuclear na Rússia ou no Cazaquistão na última semana de Setembro.

Até agora, nem a Rússia nem o Cazaquistão tinham reconhecido qualquer acidente.

O serviço meteorológico do Estado russo, Roshydromet, comunicou, na segunda-feira, a descoberta de “poluição extremamente alta” do ruténio 106 em duas estações meteorológicas na região sul dos Urais, no final de Setembro e início de Outubro. Na estação meteorológica de Agrayash, os níveis eram 986 vezes superiores aos do mês anterior, enquanto na estação de Novogorny eram 440 vezes superiores. O serviço meteorológico não descartou que o isótopo radioactivo pudesse ser absorvido pela atmosfera e tivesse chegado à Europa.

A estação meteorológica de Agrayash está localizada a cerca de 30 quilómetros de Maiak, um grande complexo onde é reprocessado o combustível nuclear e produzido material radioactivo para fins industriais e de pesquisa, pertencente à empresa nuclear russa Rosatom. Maiak representa metade das exportações russas de isótopos radioactivos.

Em comunicado, Maiak negou que o complexo fosse a fonte de aumento do nível de ruténio 106. A Rosatom também foi citada pela agência de notícias russa RIA dizendo que não houve acidentes em nenhuma das suas instalações.

A Greenpeace já pediu ao Ministério Público da Rússia para investigar se houve um acidente na área. Em comunicado, a associação ambientalista “também exige que seja verificado se o sistema de monitorização de radionuclídeos atmosféricos está suficientemente preparado para possíveis acidentes e se a saúde pública está suficientemente protegida de uma possível libertação de ruténio 106”.

O Instituto francês de Segurança Nuclear descartou a possibilidade de ter havido um acidente num reactor nuclear, dizendo que era mais provável que o material que detectou tenha sido libertado de um local de tratamento de combustível nuclear ou centro de medicamentos radioactivos. A poluição não seria suficiente para causar um impacto na saúde humana ou no meio ambiente na Europa, garantiu o instituto.

O Instituto de Física Nuclear no Cazaquistão, próximo dos Montes Urais, disse que não houve acidentes no seu reactor de pesquisa científica nem encontrou ruténio 106 nas duas áreas de teste desactivadas na zona oeste do país.

Sugerir correcção
Ler 15 comentários