O sultão que não queria futebol no Besiktas

Adversário do FC Porto na Champions é o mais antigo e popular clube de Istambul.

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Reuters/MURAD SEZER

Dos três grandes clubes de Istambul, o mais antigo e mais popular de todos é o Besiktas JK. É uma criação de um grupo de 22 jovens do coração da cidade que lhe deram o nome que o identifica há mais de um século. Nos primeiros anos de existência, o Besiktas circunscreveu a prática desportiva às disciplinas de desenvolvimento do corpo e o próprio nome fala de um clube dedicado à ginástica. O Galatasaray continua a representar a elite formada pelo Liceu Francês e, como resposta às ambições dos negociantes ricos da outra margem do Bósforo, já na zona asiática, surgiu o Fenerbahçe.

Não foi fácil para os nascidos na zona de Besiktas incluir a prática do futebol que alguns ingleses queriam integrar no clube da águia negra. Jogavam às escondidas do sultão Hamid, que não queria que os estrangeiros contaminassem os hábitos dos jovens da cidade com práticas que pouco diziam à generalidade dos turcos. Só nove anos depois da fundação, em 1903, é que o Besiktas conseguiu dar espaço ao futebol com a sua inclusão numa longa lista de desportos praticados, a começar pela ginástica, boxe, atletismo, luta, wrestling, natação e mais algumas actividades que são ainda hoje uma imagem de marca do clube.

Anos mais tarde, quando teve o seu próprio estádio, perto do famoso palácio de Dolmabahçe, o clube quis homenagear um Presidente da República que lhe deu importante ajuda e, em 1939, baptizou o seu estádio com o nome de Inönü. Agora, completamente renovado, aproxima os jogadores do público nas tais condições que incomodaram o alemão Timo Werner quando o RB Leipzig lá jogou.

Durante muitos anos o futebol do Besiktas limitou-se às competições locais, com subidas e descidas. Já em 1956, foi o primeiro a ganhar um título nacional da Turquia, somando agora 15 na totalidade. Tal como outras equipas turcas, também durente um longo período não foi além de contribuições isoladas de jogadores estrangeiros e foi a chegada de um treinador britânico, chamado Gordon Milne, que estimulou a ideia de levar para Istambul futebolistas experientes recrutados em Inglaterra.

Curiosamente, passou por várias fases, não apenas de ingleses mas também de sul-americanos - e até já houve uma maré portuguesa com a contribuição não apenas de Quaresma, o mais idolatrado de todos, no tempo de Carlos Carvalhal em 2011, quando o Besiktas juntou ainda Simão, Hugo Almeida, Manuel Fernandes e Bebé. Agora, a escolha do treinador passou por um turco, Senol Günes, mas já foram preferidos estrangeiros, seduzidos pela paixão dos adeptos do Besiktas e até o aureolado Vicente Del Bosque se deixou fascinar depois de grandes sucessos em Espanha. Na hora de aceitar a proposta para trabalhar em Istambul, a fidelidade dos adeptos do Besiktas continua a ser decisiva para quem se sinta como um privilegiado por fazer parte de uma família (leia-se cidade) de 13 milhões de habitantes.

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