Ainda há quem ache que é inaceitável um homem chorar

As ideia-feitas sobre género traçam uma divisão na Europa, sobretudo entre o Leste e o Norte.

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MIGUEL MANSO

O último Eurobarómetro, divulgado esta segunda-feira, dá uma ideia do que ainda ditam os estereótipos de género nas sociedades europeias: um em cada dez europeus acham que é inaceitável um homem chorar (10%), quase sete em cada dez pensam que as mulheres são mais propensas a tomar decisões com base nas emoções (69%), mais de quatro em cada dez acreditam que o papel mais importante de uma mulher é cuidar da casa e da família (44%) e o de um homem é ganhar dinheiro (43%).

O inquérito foi feito nos 28 Estados-membros entre 13 e 26 de Junho. Por iniciativa da Direcção-Geral da Justiça e dos Consumidores, foram entrevistadas cara a cara, na língua materna, 28.093 pessoas de diferentes grupos sociais e etários.

Cada entrevistado teve de dizer se concordava ou não com quatro frases que expressam estereótipos de género. E confirmou-se que a Europa não é toda igual em matéria de igualdade: é na Bulgária, na Hungria e na Lituânia que estas ideias-feitas têm mais peso e é na Suécia, na Dinamarca e na Holanda que têm menos.

Um exemplo: existem cinco países onde pelo menos um quarto da população pensa que o choro masculino não é aceitável, a Lituânia (34%), a Roménia (33%), a Bulgária (32%), a Eslováquia e a Croácia (ambos com 25%). Portugal fica-se pelos 3%.

Outro exemplo: em todos os países, menos na Suécia, a maioria acredita que as mulheres são mais propensas do que homens para tomar decisões com base nas emoções. Em Portugal, a discordância é de 18%.

Papel das mulheres é cuidar da casa?

A aceitação da ideia-feita sobre os papéis de género é mais diversa, mas há uma clara separação entre Leste e  Norte. Portugal está ao centro, com 47% a dizerem que o papel mais importante das mulheres é cuidar da casa e da família e 40% que o papel mais importante dos homens é ganhar dinheiro.

No colóquio anual sobre direitos fundamentais, que decorre esta segunda-feira e esta terça-feira em Bruxelas, é subordinado ao tema "direitos das mulheres em tempos turbulentos". No primeiro dia, a comissária europeia responsável pela pasta da Justiça, dos Consumidores e da Igualdade de Género, Vera Jourová, lembrou que “as mulheres continuam a estar sub-representadas nos cargos de chefia”. "Em média, continuam a ganhar menos 16% do que os homens."

A comissária europeia quer reforçar os direitos das mulheres. A comissão tem um novo plano de acção destinado a eliminar as disparidades salariais entre homens e mulheres. A ideia central desse plano, pensado para 2018-2019, é “melhorar o respeito pelo princípio da igualdade salarial”, “diminuir o efeito penalizador dos cuidados familiares” e quebrar o chamado "tecto de vidro”.

Os europeus não deverão torcer o nariz à iniciativa. O Eurobarómero, divulgado esta segunda-feira, mostra que nove em cada dez julgam que promover a igualdade de género é importante para garantir uma sociedade mais justa e democrática. Os portugueses (98%), os suecos e cipriotas (97%) são, de resto, os que mais expressam essa posição. 

Mais mulheres em cargos de liderança

Metade dos europeus pensa que deveria haver mais mulheres em cargos de liderança política. Sete em cada 10 revelam-se favoráveis a medidas legislativas nesse sentido. É em Portugal e na Eslovénia (ambos com 89%) e na Croácia e na Bulgária (ambos com 87%) que há mais opiniões nesse sentido.

Há uma clara noção de que as mulheres fazem um esforço maior em casa e na família. Oito em cada dez europeus entendem que os homens deveriam assumir as tarefas domésticas de forma equitativa ou gozar a licença parental. 

A desigualdade salarial merece uma reprovação generalizada: 90% dos europeus afirmam que é inaceitável que as mulheres recebam um salário inferior ao dos homens quando fazem o mesmo trabalho.

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