Saúde 24 + pais de crianças pequenas = ideia vencedora da Parents Summit

É claro que nada substitui a observação médica e às vezes é um pouco difícil responder a perguntas sobre o tipo de tosse ou de bolhinhas, mas certamente a Saúde 24 evita umas quantas idas (desnecessárias) às urgências

O Outono é sinónimo de castanhas, folhas a cair e crianças doentes lá em casa. Com a mesma naturalidade com que descascamos umas quantas castanhas quentinhas, aconchegadas com uma jeropiga fresquinha, limpamos narizes, medimos temperatura e damos xaropes. Este ano, há poucas castanhas (e são caras), a chuva não aparece, mas os vírus e bactérias outonais já andam por aí à solta, a dar a volta aos planos de pais e mães trabalhadores.

Nesta altura do ano, começa também a aprendizagem de novas doenças, patrocinada pelo “doutor Google”. À colecção de “ites” (bronquiolites, otites, laringites, gastroenterites, rinofaringites, que como é como quem diz constipações), vão-se juntando uns clássicos da nossa infância (a varicela, por exemplo), doenças que nos fazem lembrar os marinheiros (escarlatina) ou que parecem derivados de nomes de pessoas (candidíase oral, também conhecida como sapinhos).

Felizmente, a tecnologia é uma preciosa ajuda e os pediatras (no meu caso, pelo menos) atendem telemóveis, respondem a emails com fotos de erupções cutâneas ou a MMS com bolinhas-que-podem-ou-não-ser-varicela. Só que as crianças, às vezes, escolhem horas impróprias para adoecer ou ficam piores no dia em que a pediatra não dá consulta. Chegados aqui, e como não vejo mal nenhum em dizer bem, há que fazer um elogio à linha Saúde 24, agora transformada em SNS 24 — Centro de Contacto do Serviço Nacional de Saúde. Uma bela invenção, em 1998, que começou por se chamar Dói Dói Trim Trim (por que mudaram o nome?), passou a Linha de Saúde Pública, antes de ser Saúde 24, a partir de 2007.

Para o caso, pouco importa a polémica de saber se era operada por uma empresa ou se agora são os serviços do Ministério da Saúde. É definitivamente uma boa ideia. Se houvesse uma Parents Summit, o autor da ideia certamente seria o vencedor deste “pitch”. A qualquer hora do dia ou da noite, podemos ligar, descrever o estado da criança (também serve para adultos) e receber uma recomendação sobre se é melhor ir imediatamente às urgências, marcar consulta ou esperar mais um pouco. Na primeira vez que a usei (era feriado), fui reencaminhado para o centro de saúde, certamente menos concorrido do que as urgências hospitalares, esse sítio onde (para bem de todos) só devemos ir mesmo nos casos absolutamente necessários.

É claro que nada substitui a observação médica e às vezes é um pouco difícil responder a perguntas sobre o tipo de tosse ou de bolhinhas, mas certamente a Saúde 24 evita umas quantas idas (desnecessárias) às urgências. E dá algum apoio a esses seres frágeis que são os pais/mães com uma criança doente nos braços.

Também já existe uma aplicação para os tempos de espera e — meio a sério, meio a brincar — sugiro que acrescentem informação sobre os lugares de estacionamento no hospital. É que ir ao hospital de Santa Maria (e imagino que o cenário se repita por esse país fora) pode ser um pesadelo. O carro ficou tão longe (mais valia ter ido de metro) que depois da caminhada com a criança ao colo já estava com dúvidas sobre se devia ir à urgência pediátrica ou apanhar soro na secção para adultos.

Já que falamos de tecnologia, podemos aproveitá-la para avisar os médicos que o resultado de uma análise está pronta. É que dá jeito esperar só 40 minutos em vez de hora e meia quando se está com uma criança pequena. E se algum empreendedor inventar uma app que ensine paciência e boa educação, também seria útil para os frequentadores de serviços públicos. É certo que eles estão longe da perfeição, mas muitos utentes transformam os funcionários num “saco de pancada”. Como se fossem os culpados de todos os males do mundo, das nossas doenças ou do nosso mau-humor. 

Crónica é uma rubrica publicada no P2, caderno de domingo do PÚBLICO

Sugerir correcção
Ler 1 comentários