Depois dos jamaicanos, chegam as pioneiras nigerianas

Pela primeira vez na história dos Jogos Olímpicos de Inverno, o bobsled vai ter uma equipa africana a competir. São três raparigas nascidas nos EUA que deixaram a velocidade para se dedicarem aos trenós.

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As três pioneiras nigerianas DR

Os Jogos Olímpicos de Inverno têm uma longa tradição de participantes exóticos e, por exóticos, entenda-se de países que têm zero de tradição em desportos de Inverno, desde o nobre mexicano-alemão que competia no slalom vestido de “mariachi”, a Vanessa Mae, a violinista que esquiava pela Tailândia, passando pelos muito celebrados (e repetentes) jamaicanos do bobsled. Os Jogos de 2018, que se realizam em PyeongChang (Coreia do Sul) em Fevereiro próximo, já têm garantida a quota de exotismo pioneiro. São três mulheres que nasceram nos EUA, que passaram do atletismo de velocidade para os trenós de velocidade e que vão representar a Nigéria nos Jogos coreanos, entrando para a história como a primeira equipa africana (entre homens e mulheres) a competir no bobsled olímpico.

Seun Adigun, Ngozi Onwumere e Akuoma Omegora são as três mulheres que vão colocar a Nigéria no mapa dos Jogos Olímpicos de Inverno – será apenas o 13.º país africano em 54 filiados africanos no Comité Olímpico Internacional a participar nos Jogos de Inverno, sendo que nenhum país do continente conquistou qualquer medalha nestes Jogos. Todas elas nasceram nos EUA, filhas de pais nigerianos, e todas fizeram a sua formação desportiva no atletismo e no “sprint”, representando a Nigéria, um país com muita tradição na velocidade, em competições internacionais.

É bastante comum atletas do “sprint” fazerem a transição para o bobsled, uma modalidade que exige potência muscular e capacidade de explosão. Alguns dos jamaicanos eram antigos velocistas (e não, Usain Bolt não está a pensar em fazer uma aparição em PyeongChang), e é recorrente a equipa norte-americana de bobsled recrutar no atletismo – para os Jogos de 2018, o Team USA conta, por exemplo, com Lolo Jones, antiga vice-campeã mundial dos 100m barreiras, e finalista olímpica em 2008 e 2012 na mesma prova.

Das três nigerianas, uma delas, Seun Adigun, também foi atleta olímpica nos 100m barreiras em Londres 2012 (não passou da primeira ronda), e foi o desejo de voltar ao palco olímpico que a levou a explorar alternativas desportivas. Nascida em Chicago, Adigun era uma promissora velocista universitária que chegou a ser treinada por Leroy Burrell, campeão olímpico e antigo recordista dos 100m, mas cuja carreira não foi o que podia ter sido devido a problemas cardíacos. Ainda assim, competiu em Mundiais, Jogos Olímpicos e Mundiais de pista coberta pela Nigéria, e chegou a ser campeã africana da modalidade.

Depois de abandonar o atletismo, chegou a fazer testes para a equipa norte-americana de bobsled (especialidade aberta às mulheres nos Jogos apenas desde 2002), e foi aqui que começou a pensar em formar uma equipa que representasse o país dos seus pais.

Claro que a Nigéria nem sequer tinha uma federação de desportos de Inverno, mas o Comité Olímpico do país, que é um dos mais medalhados de África em Jogos Olímpicos, aceitou ajudar Adigun nesta aventura. Ao mesmo tempo, a atleta recrutava mais duas para a causa, Ngozi Onwumere, do Texas, e Akuoma Omegora, do Minnesota, também atletas da velocidade e estudantes universitárias – Onwumere chegou a ser campeã de estafetas nos Jogos Africanos. As três iniciaram uma campanha de “crowdfunding” para angariar os dólares suficientes (a verba pedida era de 150 mil dólares) para conseguir o objectivo olímpico.

Tudo começava por arranjar um trenó em condições – as primeiras experiências com algo semelhante foi no quintal com um trenó de madeira chamado “Mayflower”. Depois era preciso bancar alojamento e viagens, para treinar e para competir. Para chegar aos Jogos, bastava competir e completar cinco provas, sem pensar na classificação, em três pistas diferentes durante duas épocas.

Já com o apoio da Visa, as nigerianas completaram o objectivo nesta semana, em Calgary, no Canadá, e serão uma das equipas femininas na prova de bob 2, que é a única especialidade feminina do bobsled olímpico - os homens também têm a prova de bob 4.

“Nada me orgulha mais do que saber que posso desempenhar um papel, por mais pequeno que seja, em que os desportos de Inverno aconteçam na Nigéria. O nosso objectivo é ser a melhor representação africana de sempre”, afirmou à ESPN Adigun, ela que será em PyeongChang a condutora do trenó, que atinge velocidades superiores a 100km/h. Tal como os jamaicanos fizeram nos Jogos de Calgary em 1988 (a Jamaica esteve sempre representada nos Jogos de Inverno desde então), as mulheres nigerianas não querem ficar por aqui e querem deixar um legado desportivo diferente para a Nigéria seguir. E quem sabe, tal como os pioneiros caribenhos, um filme.

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