Nick Cave actua em Israel apesar dos apelos ao boicote ao país de Netanyahu

Activistas do movimento BDS, como Roger Waters ou Thurston Moore, tinham pedido a Cave para cancelar os dois concertos em Telavive.

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Nick Cave no Primavera Sound, no Porto, em 2013 Paulo Pimenta

O músico australiano Nick Cave vai mesmo fazer os dois concertos programados para este domingo e segunda-feira na Menorah Arena de Telavive, no âmbito da digressão associada à edição do disco Lovely Creatures (2016)apesar dos apelos que recebeu desde o início de Novembro para não actuar num país acusado de estabelecer um sistema de apartheid relativamente aos palestinianos.

O mentor dos Bad Seeds justificou este domingo, na capital do país, as razões por que decidiu manter os espectáculos. “Estou aqui porque gosto de Israel e dos israelitas, mas também porque é importante manifestar-me contra quem pretende restringir a liberdade dos músicos”, disse Nick Cave, citado pela imprensa israelita. E acrescentou que, de algum modo, tinha também decidido regressar a Israel por causa do BDS.

Este movimento, designado Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), mobiliza uma campanha global preconizando o boicote político, académico e cultural ao Estado de Israel como forma de protesto contra a política que vem sendo desenvolvida pelo Governo de Benjamin Netanyahu.

No âmbito deste movimento, no dia 1 de Novembro, um grupo de músicos e artistas incluindo Roger Waters (Pink Floyd), Thurston Moore (ex-Sonic Youth), ao lado da actriz Julie Christie, dos realizadores Mike Leigh e Ken Loach, da escritora e filósofa americana Angela Davis, do actor palestiniano Saleh Bakri, ou do escritor e pintor sul-africano Breyten Breytenbach, endereçou uma carta aberta a Nick Cave e aos Bad Seeds apelando ao cancelamento dos concertos.

Citando um recente relatório da ONU, os signatários lembram que "Israel estabeleceu um regime de apartheid que domina o povo palestiniano". E descrevem as características desse regime: escritores palestinianos sob prisão domiciliária, festivais literários encerrados, actores e músicos proibidos de viajar, media sob vigilância, uso da força militar contra uma população cativa, expansão constante dos colonatos ilegais... “São crimes”, classificam. Por isso, apelam a Nick Cave: “Não vá; não enquanto existir apartheid”.

O músico e os seus companheiros de banda não acataram o apelo, e vão mesmo fazer os dois concertos em Telavive, que desde há muito têm as lotações esgotadas.

Na referida conferência de imprensa, Nick Cave justificou-se não apenas com a ligação afectiva que sente com os israelitas, mas também por se recusar a assinar petições. “Não quis assinar a petição, não me sinto vinculado a ela – e não gosto de listas”, disse. E lembrou mesmo que, há já alguns anos, tinha também recusado subscrever uma petição que lhe tinha sido enviada por Brian Eno, igualmente contra Israel. “Na altura, disse-lhe que não assinava, mas também não actuei em Israel – pareceu que eu tive medo”, recorda.

Desta vez, fez questão de enfrentar a situação e regressar mesmo a Israel, onde já não actuava há duas décadas.

 

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