Descarbonizar é preciso

Há sinais encorajadores de que uma transição energética global está em andamento.

Dois anos após o acordo conseguido para limitar o aquecimento global a 2ºC em relação à era pré-industrial, prosseguindo esforços para atingir um limite de 1,5ºC, ainda se assiste a um enorme fosso entre a ambição de reduzir os gases de efeito estufa a nível mundial e o progresso de cada país na implementação do Acordo de Paris.

No entanto, há sinais encorajadores de que uma transição energética global está em andamento. Os números mostram que em 2014, 2015 e 2016, as emissões globais de dióxido de carbono relacionadas com a produção de energia estabilizaram, algo que acontece pela primeira vez desde a revolução industrial e em anos sem grande crise económica. As emissões globais diminuíram em 2016, facto inédito desde o início da década de 1980. Porém, os dados preliminares publicados pelo Global Carbon Project indicam que as emissões em 2017 aumentarão novamente em 2%.

A descarbonização dos sistemas de energia é fundamental. Os investimentos em energias renováveis continuam a dominar a expansão do sistema energético em todo o mundo. Ao mesmo tempo, o uso do carvão está em declínio. No ano passado, o consumo mundial de carvão foi 1,7% inferior ao de 2015. Mesmo com os preços em queda, a produção de carvão já atingiu o pico em 2013, quer à escala mundial, quer nos maiores emissores do mundo: China, EUA e União Europeia. Em 2015, quase todos os países mantiveram taxas de crescimento de dois dígitos nas energias renováveis e vemos que as tecnologias solar e eólica tornam-se mais competitivas em cada ano que passa. Enquanto as taxas de crescimento das renováveis foram particularmente fortes nos países industrializados, são agora as economias emergentes que estão a desempenhar um papel cada vez mais crucial na transição energética global. A China lidera o investimento em energias renováveis, e os países do Médio Oriente, do Norte da África e da América Central e do Sul deverão aumentar drasticamente a sua capacidade instalada em 2018. Mais de metade da nova capacidade instalada em energia eólica (51%) e em energia solar (53%) já está nas economias emergentes.

A redução de custos de investimento das energias renováveis (eólica e solar) é assim uma oportunidade para a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis. Para contrariar o uso do petróleo, carvão e gás natural, e acelerar a transição para as renováveis, é necessário estabelecer metas de produção de energia renovável mais ambiciosas e uma apropriada regulamentação do preço do carbono, com custos progressivamente mais elevados.

A reação global à saída dos EUA do Acordo de Paris teve um efeito inesperado: criou uma frente unida de todos os outros países para manter os objetivos do Acordo de Paris, tornando mais forte a mensagem de que este acordo não pode ficar no papel e requer uma concretização urgente. Em todo o mundo, há sinais positivos de ações ao nível local e do setor privado, para a redução de emissões.

Portugal é um dos países europeus mais vulneráveis às alterações climáticas e ainda com um longo caminho, à escala local e nacional, a percorrer para nos adaptarmos. Talvez por isso devamos sentir uma maior responsabilidade em transformarmos o nosso estilo de vida e a nossa economia, tornando o país efetivamente mais sustentável. Os combustíveis fósseis têm de deixar de ser tão responsáveis pela nossa energia — um quarto das emissões é proveniente do setor dos transportes e o outro quarto da produção de eletricidade, principalmente da queima de carvão. Estas centrais a carvão já têm um fim à vista, no limite em 2030. É fundamental discutirmos e tomarmos as opções certas para termos um país neutro em carbono em 2050.

De furacões e tufões a ondas de calor, incêndios florestais e secas extremas, o sinal é claro: as alterações climáticas estão em andamento e o tempo para evitar impactos verdadeiramente devastadores está a acabar. Temos as soluções de energia limpa necessárias para enfrentar o desafio — o que não há é suficiente vontade política. Todos os países devem chegar à próxima Cimeira do Clima, em dezembro de 2018 na Polónia, preparados para tomar ações ousadas para proteger os cidadãos de hoje e as gerações futuras das consequências dramáticas de um clima em mudança.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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