À volta desta mesa de Vila Real acontecem coisas

Chama-se A Mesa Lá de Casa, junta quatro irmãos, uma prima e a cumplicidade de amigos. A comida é importante, claro, mas há também conversas e livros.

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O brunch d'A Mesa Lá de Casa
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Todos os meses há um sábado temático em torno da mesa
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O bruch
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Há um pequeno espaço para venda de alguns produtos
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A ideia é que os clientes tirem um livro da prateleira e fiquem a ler, se lhes apetecer
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Atum braseado com espinafres
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O cheesecake da casa é feito pela irmã mais nova

O nome ocorreu-lhes logo: o restaurante que os quatro irmãos queriam abrir chamar-se-ia A Mesa Lá de Casa. A partir daí foi definir o conceito, procurar o local, fazer obras, escolher os produtos, desenhar a carta e desde o início de Setembro que A Mesa Lá de Casa é uma realidade, no centro histórico de Vila Real.

Os quatro irmãos são a jornalista Anabela Mota Ribeiro, o irmão Paulo, as irmãs Sofia e Carolina e ainda a prima, Magda Lourenço Ribeiro, que se juntou a eles. O espaço é amplo, com mesas junto às paredes e uma mesa grande ao centro. É aí que nos sentamos para ouvir Anabela explicar como tudo nasceu e por que é que decidiram fazer, em Vila Real, a terra onde nasceram, um projecto que em muitas coisas pretende ser diferente.

“Desde o início que pensámos que queríamos ter uma relação com a terra e com os produtos da região em que acreditamos e que têm qualidade”, diz. “Faz todo o sentido que o pão, as regueifas, o pão de mistura e a broa de milho, seja de um produtor local [a histórica pastelaria Gomes, fundada em 1925], o azeite também, os vinhos são todos do Douro.”

Esta relação não se esgota no que é servido. Enquanto a nossa mesa se vai enchendo — sopa de cenoura e laranja, uma tábua de queijos Flor Transmontana, salada de atum braseado com espinafres frescos e molho de mostarda e mel, pregos em bolo do caco de uns suculentos secretos de porco preto, uma tartine de Queijo da Serra com presunto e figos — Anabela explica que a ideia é trazer alguns desses produtores da região para conversas à volta da mesa, uma vez por mês, ao sábado.

Os sábados temáticos

Pode ser uma aula para ensinar a fazer cupcakes, como foi o primeiro sábado temático, ou um workshop sobre chás com o projecto Gramas de Chá (cujos chás podem ser bebidos e comprados no restaurante), ou sobre o barro preto de Bisalhães, património da UNESCO e material de alguns dos candeeiros d’A Mesa Lá de Casa. Pode haver uma conversa com as senhoras que fazem os linhos de Agarez ou com Graça Saraiva, das Ervas Finas, ou um workshop em torno dos deliciosos Doces da Puri, feitos com a fruta de uma quinta em Carrazeda de Ansiães.

Tudo isto mostra que A Mesa Lá de Casa quer ser mais do que um local onde se serve boa comida — quer ser um espaço de encontro. As estantes, ao fundo da sala, com livros trazidos por Anabela, estão lá para que as pessoas, se quiserem, possam passar algum tempo a ler enquanto comem — e isso tem acontecido, sobretudo com as crianças, que, garante Magda, vão sempre buscar um livro.

E é um projecto de família, mas também de amizades e cumplicidades, que incluiu, por exemplo, o arquitecto Emanuel Bessa Monteiro, cujo desenho do espaço (o primeiro esboço, feito durante a conversa inicial com Anabela e os irmãos) está agora ampliado na parede por trás do bar. Outra cúmplice foi Maria João Pinto Coelho, do projecto Adivinha Quem Vem Jantar, que ajudou a criar a ementa e a formar a equipa da cozinha, agora chefiada por Pedro Alves.

Há uns anos, um projecto com estas características teria poucas hipóteses de sucesso numa cidade conservadora como é Vila Real, acredita Anabela. Mas as coisas têm vindo a mudar e sinal disso é a nova dinâmica, de que A Mesa Lá de Casa faz parte, no centro histórico. Depois de anos em que ameaçava mergulhar no adormecimento, o centro está a renascer, com a proibição do trânsito automóvel em certas zonas e a abertura de lojas e de restaurantes (vários na rua do Mesa, a Teixeira de Sousa).

Ainda puseram a hipótese de abrir perto da universidade mas rapidamente concluíram que esta era a zona certa para o público-alvo que procuram, pessoas de classe média, com cultura e um pouco mais de poder de compra que os estudantes.

Duas ofertas de brunch

Uma das coisas que Anabela notou nos últimos anos foi que muito mais gente começou a viajar e a conhecer outros países, tudo por causa das low cost a partir do Porto. Isso deixou as pessoas mais abertas a um espaço como este em que podem sentar-se ao lado de desconhecidos numa mesa comprida (a jornalista conta que no início havia quem dissesse que isso não iria resultar) ou ir comer um brunch ao fim-de-semana (existem duas ofertas, o simples, a 8 euros, e o A Mesa Lá de Casa, mais completo, com ovo benedict, scones, etc., a 12 euros).

E se a oferta à carta é mais descontraída e criativa, com diferentes tipos de prego, do pojadouro ao atum, passando pelo vegetariano, e se há tartines de espargos verdes salteados em manteiga de amendoim e ovos escalfados, por exemplo, há também propostas mais tradicionais, com um prato do dia diário (6 euros) e, à noite, um prato tradicional transmontano (entre os 9 e os 15 euros). Para a despedida, é difícil resistir à tarte de requeijão feita por Carolina, a irmã mais nova desta família que quis partilhar a mesa lá de casa.

 

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