Torre de arrefecimento do S. Francisco Xavier tinha estirpe fatal de Legionella

Deve ter havido uma “falha técnica”, dizem o presidente do Instituto Ricardo Jorge e a directora-geral da Saúde. Uma parte do mistério continua porém por deslindar: há quatro doentes que não estiveram sequer no hospital.

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Até esta quinta-feira, havia 54 casos confirmados de doença dos legionários LUSA/ANTÓNIO COTRIM

Uma parte do mistério está esclarecida: a origem do surto da bactéria Legionella no Hospital de São Francisco Xavier (Lisboa) terá sido uma das torres de arrefecimento daquele estabelecimento, adiantaram nesta quinta-feira em uníssono a directora-geral da Saúde e o presidente do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa), Fernando Almeida. Mas ainda há muitas peças por montar neste puzzle complicado.

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Uma parte do mistério está esclarecida: a origem do surto da bactéria Legionella no Hospital de São Francisco Xavier (Lisboa) terá sido uma das torres de arrefecimento daquele estabelecimento, adiantaram nesta quinta-feira em uníssono a directora-geral da Saúde e o presidente do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa), Fernando Almeida. Mas ainda há muitas peças por montar neste puzzle complicado.

O presidente do Insa disse ao PÚBLICO que as amostras já analisadas no instituto permitiram perceber que a estirpe das bactérias detectadas na água de uma das torres arrefecimento do hospital “é indistinguível, idêntica” à encontrada em vários doentes (e até ao momento há dados definitivos sobre dez).

Fernando Almeida notou, porém, que apenas foi pedida ao Insa a análise da água de uma das três torres de arrefecimento do hospital.

"Podemos com um elevadíssimo grau de probabilidade dizer que foi a água de pelo menos uma das torres que terá provocado o surto, uma vez que a bactéria que estava na água é geneticamente indistinguível à que estava presente nas secreções dos doentes", confirmou entretanto à Lusa a directora-geral da Saúde, Graça Freitas.

O Insa começou por estudar amostras de 11 pontos do hospital, tendo de seguida avaliado mais 35 locais por “uma questão de segurança”, explicou Fernando Almeida. Foi necessário depois proceder a análises demoradas e complexas para fazer a genotipagem das bactérias de maneira a poder identificar estirpes e fazer comparações. Os resultados preliminares apontam para a torre de arrefecimento como possível foco da infecção.

“Deve ter havido uma falha técnica, não por desinvestimento do hospital, mas alguém falhou. Não me compete dizer qual foi a falha, mas a presença de Legionella na água por si só não faz mal, o problema é a maneira como é transportada”, sublinhou o presidente do Insa.

Mas Graça Freitas foi mais longe: "Aconteceu aqui uma falha na vigilância, monitorização e controlo e, havendo uma empresa responsável, terá de ser investigada noutra sede que não a da saúde pública".

O que é certo, na opinião da directora-geral, é que “alguma coisa aconteceu neste processo que levou a uma proliferação anormalmente elevada da bactéria”. Por isso, defende, "há aqui uma avaliação de risco que quem toma conta desses sistemas tem de fazer".

Doentes que não estiveram no hospital

Uma parte do mistério continua porém ainda por deslindar: há quatro doentes que não estiveram sequer no hospital. Graça Freitas explicou que são doentes que estiveram nas imediações do São Francisco Xavier, não podendo assim ser descartados por completo do surto, apesar de as autoridades indicarem que nos dias iniciais não havia condições favoráveis à propagação atmosférica de Legionella.

Essas quatro pessoas estão a ser objecto de estudo, frisa Fernando Almeida. "Este puzzle é muito complexo, porque tem imensas variáveis", enfatiza, notando que além das análises ambientais e clínicas a cargo do Insa (que está a estudar amostras de 38 doentes e mais de meia centena de amostras ambientais), há a avaliação estrutural feita por outras entidades e a avaliação epidemiológica que é da responsabilidade da equipa da Direcção-Geral da Saúde e do delegado regional de saúde.

Em breve, adianta Fernando Almeida, sairá legislação a determinar que o Insa passa "a assumir um papel fundamental" na vigilância periódica da presença de Legionella em todas as unidades de saúde, independentemente de cada instituição de as suas formas de monitorizar a qualidade ambiental.

Até esta quinta-feira, havia 54 casos confirmados de doença dos legionários, no âmbito deste surto hospitalar. Cinco pessoas morreram, cinco estão internadas em unidades de cuidados intensivos e duas dezenas já tiveram alta. As restantes estão internadas em enfermarias.

A Legionella é responsável pela doença dos legionários, uma forma de pneumonia grave que se manifesta habitualmente através de sintomas como tosse seca, febre alta, arrepios, dores de cabeça e musculares, podendo ainda provocar dores abdominais e diarreia. A infecção normalmente é contraída por via aérea através da inalação de gotículas de água.