Identificar as vítimas de Pedrogão foi resolver um puzzle

Equipas periciais tiveram de conjugar elementos para apurar a identidade das vítimas mortais.

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Carlos Farinha é o director o director do Laboratório de Polícia Científica da Polícia Judiciária Enric Vives-Rubio

O processo de identificação das vítimas dos incêndios de Pedrogão Grande implicou o cruzamento de vários elementos. Conjugar os indicadores que possibilitaram a identificação das vítimas foi semelhante à resolução de “um puzzle”, explica o director do Laboratório de Polícia Científica (LPC) da Polícia Judiciária, Carlos Farinha. O responsável falou ao PÚBLICO nesta sexta-feira, em Coimbra, depois de Joaquim Rodrigues, do LPC, ter apreesentado uma comunicação ao Congresso Nacional de Medicina Legal e Ciência Forense sobre a actuação deste laboratório no seguimento dos incêndios de Pedrogão Grande.

A identificação das vítimas mortais é normalmente feita através de indicadores primários – como impressões digitais, ADN e dentição– ou, se os resultados deste método não forem conclusivos, de indicadores secundários. Este trabalho é feito com recurso a dados como a localização das viaturas, adornos pessoais, documentos, entre outros. É o cruzamento dessas informações que permite a identificação.

No caso dos incêndios de 17 de Junho, que causaram 64 mortos, refere Carlos Farinha, foram identificadas várias vítimas através de elementos primários, mas outras houve em que as equipas da polícia científica tiveram de recorrer aos secundários. Como referiu Joaquim Rodrigues, durante a comunicação, o cruzamento da informação post-mortem com os dados ante-mortem permite “fechar o evento”.

Joaquim Rodrigues deu o exemplo da Estrada Nacional 236, que começou por ser um local público “absolutamente aberto”, em que “não havia referencias iniciais”. Num local com “grande concentração" de viaturas onde não se “sabia quem estaria ali”. Para chegar essa conclusão contribuíram também os trabalhos de perícia criminais e a informação de familiares.

A concentração de tantas vítimas num só local “é algo que não é muito frequente”, mesmo em situações de catástrofe, refere Carlos Farinha. A identificação dos automóveis serviu para orientar as investigações. No entanto, o estado de muitos dos veículos não permitiu a identificação através da matrícula, pelo que teve que se recorrer a outra informação. As equipas tiveram de proceder ao “reavivamento dos números de série do chassis”, uma técnica mais utilizada em casos de falsificação de viaturas.

Procedimentos semelhantes foram levados a cabo quatro meses depois, quando os incêndios da região Centro voltaram a causar um número elevado de vítimas mortais. Segundo o responsável, “a sucessão de acontecimentos ainda não permitiu um distanciamento das nossas instituições” para perceber que aspectos deveriam ser alterados. O balanço final será feito quando forem conhecidos os resultados do inquérito do Ministério Público.

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