Milionários obrigados a entregar milhões a Riad em troca de liberdade

Príncipe herdeiro quer juras de lealdade e, ao mesmo tempo, pôr fim à crise económica. Príncipes e empresários parecem dispostos a negociar para voltarem a casa.

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Mohammed bin Salman REUTERS/Jonathan Ernst

Já havia indícios que o objectivo da purga de dimensões épicas iniciada há duas semanas pelo príncipe herdeiro saudita, com dezenas de detenções na elite do reino, entre membros da família real e empresários, era obter dinheiro dos detidos. No caso do milionário Alwaleed bin Talal, investidor em empresas como o Citibank ou a Apple, tratar-se-ia de uma forma de conseguir à força o que Mohammed bin Salman (MBS) já tentara, convidando-o a ajudar a estabilizar os cofres de um Estado depauperado pela queda nos preços do petróleo e o esforço de guerra no Iémen.

Os indícios são agora certezas, com conselheiros de alguns dos detidos, a maioria mantidos no hotel Ritz-Carlton, a dar conta das negociações em curso.

Com grande probabilidade, todas estas pessoas poderiam ser acusadas de corrupção em tribunal, mas não deixa de ser verdade que nunca houve uma forma de negociar na Arábia Saudita que não passasse por esquemas de conhecimentos e subornos. O que MBS parece estar a fazer é chantagear os homens mais ricos do seu país: dinheiro, muito dinheiro, e juras de lealdade ao futuro rei (e homem que mais poder alguma vez acumulou no país), em troca de liberdade.

A um bilionário detido no Carlton está a ser exigido que entregue 70% da sua fortuna como punição por décadas de envolvimento em negócios alegadamente corruptos – segundo soube o jornal Financial Times de um seu conselheiro, este saudita está inclinado a pagar.

“Eles estão a chegar a acordo com a maioria dos que se encontram no Ritz”, disse ao FT um assessor de outro detido. “Passem para cá o dinheiro e podem ir para casa”. Segundo as pessoas que falaram ao diário, já houve transferências de bens e dinheiro para o Estado. A Reuters escreve que um empresário já viu dezenas de milhões de riais sauditas retirados da sua conta depois de assinar o acordo, enquanto um ex-responsável político aceitou entregar quatro mi milhões de riais em acções.

Segundo explicou a agência de notícias alguém próximo do processo, o Governo congelou várias contas no início da semana e deu instruções para a “expropriação de bens livres de credores”.

O Procurador-Geral afirmara que está a investigar suspeitas de corrupção que atingem os 100 mil milhões de dólares. Mas quem conhece as negociações diz que o alvo pode estar mais próximo dos 300 mil milhões, com novas vagas de detenções em vista.

MBS, o ambicioso príncipe de 32 anos que já controla todas as áreas vitais de Governo, do petróleo à defesa, recebeu aplausos por esta operação de combate à corrupção, mas agora que se percebe melhor o que está em causa é provável que os seus métodos levantem dúvidas aos investidores estrangeiros.  

“Do ponto de vista das liberdades civis obviamente que encarcerar pessoas não nos deixa confortáveis”, diz à Reuters Louis Gargour, ligado ao fundo de investimento LNG Capital, em Londres. “Mas eliminar a incerteza sobre o que estão a fazer as autoridades sauditas é um grande passo para acalmar os mercados e a passar a mensagem que o regime está a pôr a casa em ordem, e a aplacar o défice”.

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