As escolhas da nossa crítica da temporada da Casa da Música

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Marie Lys DR

In vain, de Georg Friedrich Haas

Remix Ensemble, Peter Rundel (direcção)

21 de Janeiro, às 18h

Escrita por Georg Friedrich Haas, compositor em residência na Casa da Música em 2018, como protesto face à ascensão da extrema-direita nas eleições austríacas de 1999, In vain transformou-se rapidamente numa obra de culto. Trata-se de uma composição grandiosa, que provoca um intensa experiência sensorial, remetendo para um mundo onde operam forças anti-naturais numa misteriosa paisagem sonora. Harmonias convencionais cruzam-se com sistemas microtonais e a claridade confronta-se com a escuridão num plano simbólico e literal, já que algumas passagens da obra deverão ser tocadas e ouvidas na mais completa escuridão.

O Gabinete do Dr. Caligari

Cine-concerto, música de Wolfgang Mitterer

Remix Ensemble, Digitópia Collective (electrónica)

Brad Lubman (direcção)

20 de Fevereiro, às 19h30

Filme mudo emblemático do expressionismo germânico, realizado por Robert Wiener em 1920, O Gabinete do Dr. Caligari conta a história de um hipnotizador louco que usa um paciente para cometer assassinatos. A sua estética, moldada a partir de inquietantes cenários e imagens deformadas, constituiu o ponto de partida para a criatividade de Wolfgang Mitterer, compositor multifacetado com um importante percurso na música electrónica. Resultante de uma encomenda da Casa da Música e da Philharmonie do Luxemburgo, esta banda sonora, interpretada ao vivo durante a projecção do filme, terá a sua estreia em Portugal nesta ocasião.

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Wolfgang Mitterer

Gurrelieder, de Schoenberg (versão de Erwin Stein)

Orquestra Sinfónica, Coro Casa da Música, Estágio de Coro da ESMAE

Stefan Blunier (direcção)

24 de Fevereiro, às 18h

Devido aos enormes efectivos vocais e instrumentais que exigem e aos desafios técnicos que colocam, os Gurrelieder de Schoenberg têm sido poucas vezes interpretados em Portugal. A Casa da Música vai recorrer à versão com orquestração reduzida por Erwin Stein, mas vale a pena igualmente apostar na audição desta obra, herdeira do Romantismo tardio, escrita a partir de poemas de Jens Peters Jacobsen inspirados numa lenda medieval sobre um rei dinamarquês (Valdemar), cuja mulher assassinou a sua amante. Entre os solistas estará o jovem barítono português André Baleiro, recente vencedor do Concurso Internacional Robert Schumann de Zwickau.

Salve Regina – Obras de J. S. Bach e Handel

Orquestra Barroca, Marie Lys (soprano), Laurence Cummings (cravo e direcção)

28 de Março, às 21h

Vencedora do Grand Prix Vincenzo Bellini 2017 e do Concurso Internacional de Canto Handel (Londres, 2016), entre outras distinções, a jovem soprano suíça Marie Lys apresenta-se pela primeira vez na Casa da Música. O universo barroco tem sido um dos seus domínios de eleição, incluindo vários sucessos em papéis de óperas de Handel. Este compositor estará em destaque no programa que a cantora apresenta no Porto através da belíssima Salve Regina, obra que exige grande agilidade vocal. Serão também interpretadas cantatas de Bach alusivas à paixão de Cristo e peças instrumentais.

Ciclo Música e Revolução

Anton Webern – Imersão Total

Sinfónica, Remix, Coro Casa da Música, Quarteto Arditti

20 a 29 de Abril

O ciclo Música e Revolução permite este ano uma “Imersão Total” na música de Anton Webern, um dos grandes vultos da 2.ª Escola de Viena e o mais radical dos alunos de Schoenberg. Em contraste com a monumentalidade e extensa duração das obras de compositores austríacos do Romantismo tardio que irão preencher o ano de 2018 (como Bruckner e Mahler), Webern surge como um prodígio da concisão e da depuração em novos rumos da linguagem musical e como um dos cultores mais rigorosos do dodecafonismo. Oportunidade para tomar contacto com as faces da sua produção num curto espaço de tempo, incluindo a música de câmara (pelo prestigiado Arditti Quartet), as canções (com a soprano Christina Daletska), as cantatas e a produção instrumental.

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Quarteto Arditti

A Fantasia no Piano do Barroco ao Romantismo

Artur Pizarro

29 de Setembro, às 18h

Este fascinante programa temático com Artur Pizarro propõe um percurso desde o Barroco ao Romantismo em torno de um mesmo género musical que vai adquirindo diferentes feições. Das Fantasias setecentistas de Telemann e de um dos mais talentosos filhos de J. S. Bach (Wilhelm Friedman), passando pelos contributos de Jan Václav Vorisek, Schubert e Mendelssohn nos inícios do século XIX, o recital atingirá a sua apotesose com a virtuosística Fantasia sobre temas de ‘As Ruínas de Atenas’, de Beethoven, composta por Liszt.

On Playing Mozart

Palestra-recital por Alfred Brendel

21 de Outubro, às 18h

Notável intérprete dos compositores do Classicismo vienense, Alfred Brendel abandonou os palcos como concertista há cerca de 10 anos, mas continua a dar palestras-recitais com grande brilhantismo, tocando os exemplos musicais ao piano. Muitas vezes designado como “pianista intelectual”, Brendel sempre associou um pensamento profundo sobre a música e a interpretação à prática musical efectiva, sendo autor de vários livros. Associadas a um peculiar sentido de humor, as suas clarividentes perspectivas prometem mais uma vez desvendar segredos em torno da música de Mozart.

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Alfred Brendel

O Regresso de Andreas Staier

Orquestra Barroca, Andreas Staier (cravo e direcção)

Remix Ensemble, Peter Rundel (direcção)

4 e 6 de Novembro, às 18h

Andreas Staier tem sido uma visita frequente na Casa da Música, tendo estabelecido uma frutuosa colaboração com a Orquestra Barroca. Apesar do seu repertório ser muito variado, poucas vezes tem abordado a música portuguesa. Dada a sua forte personalidade musical, aguarda-se com expectativa a sua interpretação dos dois Concertos para Cravo, de Carlos Seixas, no âmbito de um programa que inclui também Sonatas de Domenico Scarlatti e o Concerto “Alla Portugesa”, op.8 no 7, de William Corbett. Trata-se de um concerto duplo que terá uma primeira parte com o Remix Ensemble preenchida com uma nova obra de Gonçalo Gato e Auf die Stimme der weißen Kreide (Specter I-III), de Johannes Staud.

 

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