Termina hoje o prazo para as pré-negociações de coligação na Alemanha

Conversações preliminares estão a ser mais difíceis do que o previsto.

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Merkel à saída de mais uma sessão de "conversações exploratórias" FELIPE TRUEBA/EPA

Durante o dia de quinta-feira, ou mesmo durante a noite de quinta para sexta-feira, espera-se uma decisão na Alemanha: irão os partidos envolvidos nas conversações preliminares para uma coligação de Governo decidir que têm posições comuns suficientes para avançar para negociações? Ou irão perceber que as linhas vermelhas de uns são as exigências absolutas de outros?

A imprensa alemã tem relatado quão complicadas estão a ser estas conversações exploratórias iniciais, onde estão a ser discutidas 12 áreas centrais para a governação dos próximos quatro anos. “Sabia-se que ia ser difícil”, escrevia esta semana o jornal Die Zeit. “Mas parece que os potenciais parceiros de coligação estão espantados com o grau de dificuldade.” Os relatos das reuniões desta semana mostram: “Pode ser à justa”, escreve o Süddeutsche Zeitung.

Os partidos que para já mais mostraram vontade de compromisso foram os Verdes seguidos do Partido Liberal Democrata (FDP). Os ecologistas desistiram da fixação de 2030 como data limite para a proibição de automóveis a gasolina e diesel e também para desactivar as centrais eléctricas a carvão. “Estamos preparados para um compromisso, mas para isto resultar, os outros têm de mostrar a mesma disponibilidade”, disse Anton Hofreiter, líder do grupo parlamentar dos Verdes, citado pelo Politico.

Mas os conservadores, pelo menos os bávaros, não só ainda não mostraram onde poderão ceder, como desvalorizaram a concessão dos ecologistas: “Desistir de prazos ridículos não é o mesmo que fazer um compromisso”, comentou Alexander Dobrindt, um dos negociadores da CSU (União Social-Cristã, partido-gémeo da CDU- União Democrata-Cristã, de Angela Merkel, na Baviera). Merkel, pelo seu lado, tem defendido metas faseadas e cautela para que a diminuição tanto no caso dos automóveis como nas centrais a carvão não afectem a economia e resultem em perda de emprego em sectores-chave da Alemanha.

Os liberais também já admitiram aceitar um menor corte fiscal do que aquele que prometeram na campanha (uma redução de 30 milhões de euros em vez de 40 milhões), e suavizaram ainda a posição em relação ao Mecanismo de Europeu de Estabilidade (MEE), criado na sequência da crise do euro e que gere a assistência a países em dificuldades: o líder do FDP, Christian Lindner, afirmou que admitiria a manutenção do MEE “como instrumento para mais disciplina”, e valorizando a “experiência adquirida nos anos recentes na supervisão dos objectivos de estabilidade”.

Há ainda desacordo em relação à política de segurança interna, por exemplo na recolha de dados, e na política externa, por exemplo em relação a vendas de armas ou presença do nuclear americano no país.

Mas há um poderoso incentivo para os partidos cederem: esta combinação é a única hipótese de chegar a um Governo com maioria no Parlamento. As outras opções – uma coligação entre conservadores e sociais-democratas (como no Governo cessante) parece impossível porque o SPD está indisponível para formar Governo, e a xenófoba AfD está fora de qualquer cálculo porque nenhum outro partido admite colaborar com a extrema-direita (e também porque o próprio partido quer estar na oposição).

Um Governo minoritário é considerado uma impossibilidade na Alemanha até pelos riscos com um grupo parlamentar da AfD que se espera que traga turbulência a um Parlamento habitualmente sereno. E nunca na história do pós-guerra houve uma repetição de eleições – houve eleições antecipadas apenas três vezes (1972, 1983, 2005) mas sempre na sequência de um Governo não conseguir um voto de confiança do Parlamento.

O partido que ficasse visto como o responsável pelo fracasso das conversações poderia perder votos nas eleições seguintes. E numa altura em que os partidos tradicionais perderam muito (CDU e SPD baixaram; 5 pontos percentuais no caso do SPD e 8 no caso da CDU), em que os Verdes essencialmente se mantiveram e os liberais voltaram ao Parlamento após uma legislatura em que ficaram fora pela primeira vez na sua História, haverá pouca vontade de arriscar.

A Constituição não prevê exactamente o que fazer caso não haja acordo – apenas o que fazer quando o nome proposto pelo Presidente para chanceler não seja aprovado pelos deputados.

Apesar de um clima de incerteza em relação à possibilidade de uma coligação que tem aumentado, 45% dos inquiridos numa sondagem na semana passada apoiam ainda esta ideia. Se as eleições fossem agora, a CDU/CSU perderia apoio, baixando para 30% do resultado eleitoral de 32,9% (o que já foi um mau resultado, embora lhe permitisse manter o primeiro lugar por uma larga distância do segundo, o SPD com 20,5%), e impedisse, como Merkel repetiu, a formação de um Governo sem a CDU/CSU – SPD, Verdes e Die Linke, que poderiam formar uma coligação à esquerda, não tiveram no conjunto nem 40% dos votos).

Se muitos jornais estão pessimistas com as notícias que têm saído das conversações preliminares, outros sublinham que muito pode ser estratégia de negociação. Ninguém saberá até ser divulgado o pré-acordo que servirá de base, então, às verdadeiras negociações.

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