Partido de Macron enfrenta primeiras deserções e escolhe líder

O congresso do República em Marcha realiza-se sábado. Christophe Castaner foi escolhido pelo próprio Presidente para o chefiar.

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Christophe Castaner Charles Platiau/Reuters

Uma revolta de 100 membros do partido do Presidente francês, o República em Marcha, expôs a tensão que existe no movimento que, no sábado, vai eleger como líder um candidato escolhido por Emmanuel Macron.

Criado há 18 meses, quando Macron ainda era relativamente desconhecido, o Em Marcha registou uma adesão vertiginosa, chegando aos 360 mil membros. Porém, mantê-los pode revelar-se mais difícil, à medida que a popularidade de Macron desce.

Alguns activistas que abandonaram o movimento esta semana disseram que o partido ajudou Macron, um centrista, a vencer as eleições presidenciais deste ano e a maioria no parlamento nas legislativas que se seguiram. Mas disseram que o partido perdeu abertura e deixou de ser apelativo enquanto movimento que queria fazer as coisas de forma diferente.

O número de desistências ainda é pequeno, e não há deputados entre eles, mas as queixas demonstram que não é consensual a eleição do porta-voz do governo, Christophe Castaner (51 anos) como chefe do República em Marcha.

"Precisamos de nos reinventar como movimento político", disse Castaner, que é o único candidato ao lugar, antes do congresso de sábado. "Isso é essencial para acompanharmos as reformas delineadas pelo governo e pelo parlamento", acrescentou.

Socialista durante 30 anos – até ter decidido apoiar Macron – e antigo deputado eleito pelo sudoeste de França, Castaner vai tentar mudar a percepção da opinião pública, que considera Macron um "Presidente dos ricos".

Também tem por missão transformar o Em Marcha num partido mais convencional, com a força e a estrutura exigida para competir nas eleições locais e nacionais dos próximos anos: europeias em 2019, locais e nacionais em 2020.

Apesar de não passar de uma estrutura vazia que serviu para eleger um Presidente – crítica feita pelos partidos tradicionais – o Em Marcha atrai quem não se sente representado pelos partidos do "velho" sistema político e foi muito eficaz em projectar Macron para a Presidência.

Os apoiantes criaram três mil comités locais em toda a França nos meses que se seguiram à eleição presidencial, para anular a desvantagem de Macron que não tinha um "exército" nacional a promover a candidatura. Mas muitos dos que se juntaram ao movimento com grandes expectativas dizem agora que falta cultura democrática no partido. 

"A eleição de Castaner mostra a forma autocrática de fazer as coisas", disse Tiphaine Beaulieu, um dos que abandonaram o partido esta semana e que condenou aquilo em que o Em Marcha se tornou e a forma como trabalha.

A oposição também tem criticado a forma de funcionamento do Em Marcha, por Castaner acumular o papel no governo (é vice-ministro para os assuntos parlamentares) com a chefia do partido.

"No novo mundo segundo Macron este escolhe sozinho o líder do partido entre a equipa do seu gabinete no Eliseu", criticou o deputado socialista Luc Carvounas no Twitter.

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