Informações dão conta de “impasse” entre Mugabe e os militares

Líderes do golpe querem a saída imediata do Presidente do Zimbabwe, mas Mugabe insiste em manter-se até às eleições do próximo ano.

Foto
A situação nas ruas de Harare, patrulhadas pelos militares, é calma AARON UFUMELI/EPA

As condições que rodeiam a detenção de Robert Mugabe e do seu círculo mais próximo continuam envoltas numa teia de dúvidas e rumores, mas fontes citadas por várias agências e jornais dizem que o líder do Zimbabwe tem insistido em manter-se no poder até ao final do actual mandato.

Nas ruas de Harare, a situação é mais calma do que é habitual, relatam correspondentes na capital do país. O Exército montou uma série de postos de controlo no centro da cidade e os soldados têm revistado vários veículos, sem qualquer sinal de hostilidade. “A situação está bastante aceitável porque as pessoas estão a regressar ao trabalho”, diz à AP Clinton Mandioper, residente em Harare.

A calma nas ruas da capital contrasta com a atmosfera de tensão que estará a ser vivida no interior da “Casa Azul”, a mansão presidencial onde Mugabe está detido pelos militares desde a noite de terça-feira. As primeiras palavras dos líderes do Exército serviram para acalmar a população e negar que a detenção do homem que governou o Zimbabwe durante 37 anos represente um “golpe de Estado”.

O objectivo é o de afastar os “criminosos” que rodeiam Mugabe, mas ninguém fala em mudança de regime.

No entanto, nas últimas horas, militares e o círculo próximo do líder de 93 anos têm estado envolvidos em tensas negociações para definir o futuro político do Zimbabwe no curto-prazo. Os responsáveis pelo golpe querem que Mugabe se afaste de imediato, cedendo o poder de forma pacífica ao ex-vice-presidente Emmanuel Mnangagwa, e seja instalado um governo de transição.

Mugabe terá, porém, insistido em manter-se no poder até às eleições do próximo ano, para as quais estaria a preparar a sua mulher, Grace, como sua sucessora. Uma fonte citada pela Reuters descreve a situação na Casa Azul como um “impasse”. As negociações têm estado a ser mediadas pelo padre Fidelis Mukonori. Esta quinta-feira, uma comitiva governamental sul-africana chegou a Harare para tentar alcançar uma solução pacífica e a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, um bloco regional que reúne 15 países, tem uma reunião de emergência agendada.

Terá sido precisamente um confronto entre Mnangagwa e Grace Mugabe que deu origem ao golpe em curso. Na semana passada, Mugabe demitiu Mnangagwa, veterano da “guerra de libertação” – que culminou com a independência em 1980 – e encarado como o braço direito do Presidente, tomando o partido da mulher, que também se encontrará detida em Harare.

A oposição ao regime de Mugabe mostra-se disponível para integrar uma solução de compromisso para garantir a estabilidade do país. “É urgente que regressemos à democracia”, disse à BBC um dos líderes oposicionistas, Tendai Biti, que chegou a fazer parte de um governo de unidade.

Biti disse estar disposto a participar num governo de transição desde que o líder do Movimento pela Mudança Democrática, Morgan Tsvangirai, um dos principais rostos da contestação a Mugabe, também fosse integrado. Tsvangirai, que regressou na quarta-feira do Reino Unido, onde estava a ser tratado a um cancro, pediu a demissão de Mugabe "pelo interesse do povo".

Sugerir correcção
Comentar