Fado e jazz latino, um encontro de géneros num disco singular

De Carlos do Carmo à jovem Joana Almeida, dez vozes dão forma a JazzInFado, que nasceu da paixão do cubano Óscar Gomez pelo fado. O disco já chegou às lojas.

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Carlos do Carmo durante as gravações FILIPE FERREIRA
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Carlos do Carmo com Óscar Gomez FILIPE FERREIRA
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Helder Moutinho durante as gravações (imagem tirada do vídeo promocional do disco) DR
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Carminho com Óscar Gomez FILIPE FERREIRA
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António Zambujo durante as gravações FILIPE FERREIRA
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Ana Bacalhau durante as gravações FILIPE FERREIRA
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Óscar Gomez no estúdio, na mesa de mistura FILIPE FERREIRA

Dez fados, dez vozes, um lote considerável de músicos e cantores: é assim JazzInFado, disco que nasceu da paixão de Óscar Gomez, um músico e produtor cubano a viver em Espanha e vencedor de cinco Grammys. Nos pequenos vídeos promocionais que a editora divulgou, Óscar Gomez diz que, ao conhecer melhor o fado, sentiu que ele tinha um “elemento em comum com o jazz: um público que o respeita, um público devoto, um público apaixonado”, um público que, em lugar de deslumbrar-se, “sente.” “E um dia pensei: porque não unir de alguma forma o jazz e o fado?” Tal pensamento foi transmitido à editora Universal, que o pôs em andamento como projecto. E daí nasceu JazzInFado.

“Casar” duas identidades

Gravado em Espanha e em Portugal, com um lote considerável de músicos (vários deles cubanos), o disco reuniu dez vozes de diferentes gerações, fadistas e não só. A começar por Carlos do Carmo, com Lisboa, menina e moça, que abre o disco, e a acabar (é ela que fecha o disco) na jovem fadista Joana Almeida, com Tudo isto é fado. Pelo meio, e na sequência com que surgem na gravação, ouvem-se Helder Moutinho (Estranha forma de vida), Carminho (Escrevi teu nome no vento), António Zambujo (Veio a saudade), Raquel Tavares (Limão), Marco Rodrigues (Solidão), Ana Bacalhau (Fado português de nós), Cuca Roseta (Coimbra) e Maria Berasarte (A nadie se lo confieso, versão espanhola de Nem às paredes confesso). “O que fizemos”, diz Óscar Gomez no vídeo, “foi aproximar o fado ao jazz e enriquecê-lo harmonicamente. O fado tem letras muito poéticas e, em muitos casos, maravilhosas, tem melodias do povo, muito populares, e o que fizemos foi entrar em ritmos caribenhos, flamencos, brasileiros, bossa nova, no tango, entrar nos ritmos trabalhados pelo jazz latino e enriquecer um pouco a parte das harmonias. Respeitando sempre, obviamente, as melodias e as letras, claro, mas enriquecendo as harmonias."

Helder Moutinho, um dos fadistas que participou, cantando um tema de Amália, diz ao PÚBLICO: “A Universal começou a convidar vários fadistas e chegaram até mim. A ideia era gravar cá, mas eu não quis, fiz questão de ir a Madrid ter com ele, para gravar lá em estúdio. Conversámos, apercebi-me da obra dele e dos músicos envolvidos, são geniais. Mas isto para nós, fadistas, não é fácil. Primeiro estranhamos, mas depois começamos a perceber uma série de coisas e acabamos por gostar. Desde que a gente não saia do nosso universo. Não vejo isto como uma fusão, mas como um encontro entre géneros musicais: o jazz latino, que tem a sua identidade; e o fado, que é a nossa linguagem. E aquilo casou.”

Desde Amália e Rão Kyao

Têm sido raros os encontros entre jazz e fado. Dos que ficaram na história, e na memória, destacam-se o encontro entre Amália e o saxofonista norte-americano Don Byas, gravado em 1968 e editado em 1973; e Fado Bailado, do saxofonista e flautista Rão Kyao, de 1983.

O primeiro foi gravado por impulso de Luís Villas-Boas que, aproveitando a passagem de Byas por Portugal, onde actuou na Queima das Fitas de 1968, o levou até aos estúdios da Valentim de Carvalho para gravar com Amália de improviso, sem ensaios prévios, uma dúzia de fados. O segundo, totalmente instrumental, gravado com António Chaínho (guitarra) e José Maria Nóbrega (viola) foi o primeiro disco português a chegar a marca de disco de platina.

JazzInFado vem agora juntar-se a esta lista, sujeitando-se ao juízo que dele fizer o público.

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