Do futebol ao kung fu: o que fazem as mulheres para combater a desigualdade de género

Activistas reunidas no encontro anual da Fundação Thomson Reuters explicam as suas estratégias para conquistar a igualdade entre homens e mulheres.

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Freira numa demonstração em Nova Deli, Índia Anindito Mukherjee/reuters

Como se combatem os estereótipos? Jogando futebol ou subindo o Monte Evereste. Em todos os continentes há activistas que usam o desporto como forma de combater as desigualdades entre homens e mulheres. E, nesta quinta-feira, estiveram reunidas num encontro anual da Fundação Thomson Reuters, em Londres, onde partilharam as suas experiências.

Os dados das Nações Unidas mostram que, em todo o mundo, milhões de raparigas continuam sem ir à escola e vivem na pobreza ou presas em casamentos indesejados, enquanto um terço das mulheres já sofreu de violência sexual, em determinada altura da sua vida. Contudo, são cada vez mais as mulheres que começam a desafiar os obstáculos que lhes são impostos, encontrando várias estratégias. Uma delas é o desporto.

No Quénia, a advogada Fatuma Abdulkadir Adan, desde 2003, que usa o futebol como forma de comprometer as mulheres num projecto, promover as raparigas e evitar a mutilação genital. Embora jogar futebol seja um tabú para as jovens africanas, a organização de Adan já treinou cerca de 1500 raparigas de 150 aldeias, incutindo-lhes assim confiança.

"Elas não andam apenas aos pontapés à bola para marcar golos, elas estão a marcar golos pela sua vida", declara Adan, na conferência, explicando que deste modo desafiam as tradições. "Usar algo que é um tabú [uma mulher jogar futebol] para quebrar outro tabú [a mutilação genital feminina] é a melhor coisa que podemos fazer". acrescenta.

Para Raha Moharrak, 31 anos, a pressão da sua família para que casasse foi o suficiente para que se tornasse na primeira mulher da Arábia Saudita a escalar o Evereste, em 2013. "A pressão é imensa e o insulto também, quando alguém te diz que estás demasiado velha e que precisas de encontrar um marido... Eu estou destinada a fazer mais do que simplesmente esperar pelo Príncipe Encantado", responde, recordando que se recusou a "caber no molde" que toda a gente queria para ela. Actualmente já tem no seu currículo a subida a sete das montanhas mais altas do mundo.

Nos Himalaias, onde se espera que as freiras budistas cozinhem e limpem, Jigme Wangchuk Lhamo e o seu grupo, conhecido como "As freiras do king fu", têm ensinado às mulheres artes marciais para que se saibam defender e tenham confiança.

Segundo a freira de 19 anos, a aprendizagem do kung fu permite às mulheres ganharem confiança, sobretudo num país, como a Índia, onde segundo dados governamentais de 2015, há quatro violações por hora. "As pessoas dizem-nos que nos devemos sentar e rezar. Sim, fazemo-lo, mas o nosso trabalho é contribuir para um mundo melhor. A nossa missão é ajudar os outros. Eu sou filha, irmã, mulher e também freira", conclui.

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