O baixo e gordo e o velho decrépito

É estranho que dois sistemas tão antagónicos gerem dois líderes cujas emoções e sentimentos os façam parecer gémeos.

Vivemos num mundo de conhecimentos cada vez mais amplos e, ao mesmo tempo, cheio de riscos e perigos devido à loucura humana de domínio. Há dias, 05/11/2017, neste jornal, António Damásio alertava para a necessidade imperiosa de alargar e aprofundar a educação e a cultura como meio de evitar que os homens se matem uns aos outros e se quebre de vez o ciclo de guerras que desde o homo sapiens marca a humanidade.

É um facto que sobretudo desde a eleição de Trump, a Península Coreana vive um período que pode fazer explodir um conflito e lançar o mundo numa guerra nuclear. Há dias, a embaixadora da Coreia do Sul para a Diplomacia Pública, Enna Park, dizia ao jornalista Leonídio Ferreira, do DN de 10/11/2017: “Temos de manter a nossa capacidade de dissuasão, o que significa ter uma superioridade militar”... As palavras valem o que valem, e aqui estão elas com toda a brutalidade — a Coreia do Sul quer ter superioridade militar sobre a Coreia do Norte, o que se adivinhará contando com a força militar e nuclear dos EUA.

É de imaginar que o Norte possa querer dissuadir a irmã do Sul obtendo ou tentando obter uma superioridade militar. Neste exato terreno de louca corrida às armas os únicos que podem eventualmente ganhar são os fabricantes de armas de ambos os lados.

Os militares no Norte porque ser-lhes-á mais fácil manter o país sob o manto da repressão.

“Velho decrépito”, atirou Kim Jong-un a Trump, o que fez a cabeça bem ajuizada do íncola da Casa Branca vir a terreno dizer que nunca chamaria ao dono de Pyongyang “baixo e gordo”.

Não há muito tempo que o da Coreia afirmava que os EUA enfrentariam um dilúvio de fogo nuclear... o dos EUA contra-atacou, ameaçando o outro com um mar de fogo e fúria.

É estranho, sobretudo nos EUA, que se assista a este desmando, sem que estas grosserias diplomáticas não criem uma onda de indignação que faça com que Donald Trump se remeta ao mínimo na sua passagem pela Casa Branca.

Ao que se sabe, Kim Jong-un poderá dizer o que quiser, porque na terra dos Presidentes de República eleitos por legitimidade dinástica, uma espécie de reino republicano em que o primogénito sucede não ao rei, mas ao grande líder ou ao querido dirigente, ninguém abrirá a boca a não ser para aplaudir o que o dirigente máximo diga.

Se o homem à frente do país mais poderoso do mundo não acredita nas alterações climáticas e tuíta a ameaçar com um mar de fúria e fogo a Coreia do Norte, dirigida por um fulano “baixo e gordo” a continuar a sua senda para o desconhecido e imprevisível, que vai suceder ao mundo? Se o querido dirigente, grande líder, continuar a ter o dedo no gatilho ameaçando os EUA com um dilúvio de fogo nuclear, o que pode suceder ao mundo? Se a Coreia do Sul continuar a procurar a superioridade militar para dissuadir o Norte, que vai suceder ao mundo?

É estranho que dois sistemas tão antagónicos gerem dois líderes cujas emoções e sentimentos os façam parecer gémeos. A diferença no modo como se exprimem quanto ao conflito é quase nula. Primários como as crianças e desbocados como todos os que vivem centrados em si próprios. O mal é o poder que têm. Um pesadelo que amedronta a Humanidade inteira.

Não há mais ninguém no mundo que una esforços para encontrar uma saída para a crise coreana e impeça a imprevisibilidade e o acaso? 

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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