O estado da economia angolana tornava estas mudanças “estratégicas” e “urgentes”

Três perguntas a Alex Vines, director do Programa para África da Chatham House.

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Alex Vines dirige o Programa para África da Chatham House Chatham House

Director do Programa para África do think tank Chatham House, Alex Vines, descreve os acontecimentos em Luanda como os mais urgentes de uma “transição de longo prazo”.

Depois das notícias desta quarta-feira, com a exoneração de Isabel dos Santos da Sonangol e com o fim dos contratos das empresas Westside e Semba, de dois dos seus irmãos, para a gestão de dois canais da TPA (Televisão Pública de Angola), o único membro do clã Dos Santos ainda em lugar de destaque é José Filomeno dos Santos, responsável pelo fundo soberano. É o próximo na lista do Presidente ou há motivos para adiar esta decisão?
Isto que está a acontecer é política de transição. As substituições, há algumas semanas, do governador do Banco Nacional de Angola (um aliado de Dos Santos), do chefe da empresa estatal de diamantes Endiama e agora de Isabel dos Santos, da Sonangol, são parcialmente pragmáticas. Em todos estes casos eram precisas reformas adicionais e o estado da economia angolana tornava-os alvos estratégicos para serem reformados e se poder desenvolver o país a partir daí. Novas nomeações, como a de José Massamo para o BNA, e a escolha, em Outubro, de Carlos Saturnino para secretário de Estado do Petróleo à frente de uma revisão de 30 dias ao sector demonstram como as reformas do petróleo e fiscal serão importantes para a administração [de João] Lourenço. Também é uma mensagem à família Dos Santos, que fica a saber que terá de demonstrar capacidades técnicas e já não conta com o patrocínio presidencial.

E o fundo soberano não é uma prioridade, apesar das polémicas em que está envolvido?
O conjunto das mudanças será cuidadosamente executado, já que em causa está uma transição de longo prazo. Na verdade, eu acredito que “Zenu” [Filomeno dos Santos] pode ser deixado em paz, pelo menos por agora — o Fsdea [Fundo Soberano de Angola] é muito menos estratégico do que estas áreas em que se está a mexer. É uma questão de timing e de não se tratar de uma reforma tão urgente. O fundo soberano tem estado a fazer dinheiro — a questão é mais saber onde é que o dinheiro desse lucro é investido.

Esperava-se que estas mudanças demorassem um pouco mais, já que José Eduardo dos Santos se mantém na liderança do MPLA até ao próximo ano. O presidente João Lourenço sentiu que tinha apoio suficiente dentro do partido? E tem, ou ainda é possível uma reacção do clã?
As reformas são demasiado urgentes. E ele já provou que consegue avançar com mudanças em áreas estratégicas como o petróleo e confrontar a família Dos Santos, ainda que José Eduardo continue líder do partido. Os Dos Santos terão de construir novas alianças — Welwitschia [“Tchizé” dos Santos] é deputada do MPLA e activa politicamente. Eles ainda estão “protegidos”, com o pai na liderança. Dos Santos e o MPLA puseram-se de acordo para a transição — Dos Santos afastou-se e Lourenço não quer pôr isso em causa.

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