EUA aprovam primeiro comprimido digital

Produto garante toma da medicação e é composto por comprimidos com pequenos sensores, um adesivo digital e uma aplicação móvel. As informações recolhidas podem depois ser partilhadas com profissionais de saúde.

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Os sensores milimétricos são integrados no comprimido Srdjan Zivulovic/REUTERS

O primeiro comprimido digital nos Estados Unidos foi aprovado nesta segunda-feira pelo organismo regulador que vigia os medicamentos naquele país (a FDA, na sigla inglesa). O produto permite averiguar se os pacientes tomam a medicação (e a que horas). O comprimido chama-se Abilify MyCite e combina o medicamento antipsicótico aripiprazol com um pequeno sensor passível de ser ingerido. É usado, por exemplo, no tratamento de esquizofrenia ou de doença bipolar.

“Ser possível rastrear a toma da medicação receitada para doenças mentais pode ser útil para alguns doentes”, explica o responsável do departamento de produtos psiquiátricos da FDA, Mitchell Mathis, citado no comunicado oficial. O desenvolvimento e uso destes novos mecanismos na medicação, diz, serve para “perceber como é que a tecnologia pode beneficiar os doentes” — neste caso, ao garantir que é cumprida a medicação.

E como funciona? O sensor, tão pequeno quanto um grão de areia, é activado quando entra em contacto com os fluidos do estômago e comunica essa informação para um um adesivo digital colocado na zona das costelas, que detecta e regista a altura em que o comprimido foi tomado. A informação recolhida pelo adesivo é depois enviada por Bluetooth para uma aplicação de telemóvel, que permite ao paciente ver o registo de tomada dos medicamentos e partilhar essa informação com o médico — o utilizador pode ainda permitir que outras quatro pessoas (da família ou prestadores de cuidados) tenham acesso a essa informação.

A detecção da toma pode demorar entre 30 minutos a duas horas (e, em alguns casos, até pode não chegar a ocorrer), razão pela qual a FDA alerta que o mecanismo não deve ser utilizado para controlar a toma em tempo real ou durante uma emergência.

O comprimido surge depois de anos de investigaçãoda farmacêutica japonesa Otsuka, que já vendia o medicamento Abilify desde 2002, e pela empresa norte-americana Proteus Digital Health, responsável pela criação do sensor e do adesivo. Estes microchips digeríveis já tinham sido anunciados em 2012, altura em que foram comparados a um “Big Brother” que controlava a medicação. 

Ainda não está provado (e há até alguma reticência por parte da comunidade médica) que esta nova tecnologia ajude a garantir que a medicação é cumprida — tal será analisado depois de o comprimido com sensor ser lançado no mercado no próximo ano. Ainda assim, nem todos podem tomar esta medicação: o comprimido não é recomendado para pacientes idosos com demência e é aconselhado que os profissionais de saúde façam um diagnóstico ao doente para averiguar se é capaz de gerir o sistema.

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