A beleza dos objectos poderá vir a ser invisível

A tecnologia vai ajudar, mas não vai reinar.

Um dos mais controversos, mas verdadeiros significados da palavra design é obrigatoriamente “futurologia”. E na minha profissão o sentido de uma futurologia estará entre a utopia e o esquecimento. E será certamente um esquecimento se não dermos importância à estética.

Sim, à estética! A tecnologia vai ajudar, mas não vai reinar.

No final do dia, o “belo” será a variável que ditará o uso ou não do objecto.

A beleza do objecto está a afastar-se da sua dimensão visual, da sua dimensão física. Não quer isto dizer que vamos deixar ter objectos belos, mas sim que vamos ter acesso a outros objectos também eles sublimes, mas intangíveis, não visíveis. Objectos que existem, mas não estão lá.

A pergunta é clara: se não estão lá, como avaliamos a beleza do objecto?

Pode algo ser belo sem existir fisicamente?

Krishnamurti diz no seu livro Freedom from the Known que normalmente nós temos percepção da beleza por comparação. Reconhecemos a beleza quando comparamos edifícios ou através do nosso conhecimento em arquitectura, mas a pergunta de Krishnamurti subsiste e adquire novos contornos, novas interpretações: será que existe beleza sem existir o objecto?

A verdadeira atenção poderá vir a estar na ausência da imagem, na ausência do objecto, em que o familiar constantemente se transformará em estranho e o conhecido mostrará o desconhecido.

À primeira vista será o intangível a comunicar com o mundo tangível. Será o intangível que nos vai revelar as percepções, as sensações e as emoções. Que nos vai revelar o conhecimento.

A inocência será contaminada pelo toque do conhecimento intangível, invisível, mas belo.

Os ideais de percepção, sensação e sensibilidade, palavras que definem “estética” estão também a fazer parte do vocabulário tecnológico. A tecnologia, que se quer bela, invade e continuará a invadir os nossos objectos, as nossas casas, as nossas vidas.

E se, como dito nas primeiras linhas do texto, a definição de design passa obrigatoriamente por futurologia. Pergunto, se será uma utopia desenharmos um futuro com objectos invisíveis?

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