YouTube apaga milhares de vídeos de recrutador da Al-Qaeda

Os vídeos foram removidos seis anos após a morte do recrutador jihadista que os fez. É um "momento decisivo" sobre o futuro da “proliferação não controlada do ciber-jihadismo”.

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Seis anos depois da sua morte, o YouTube finalmente removeu perto de 50 mil vídeos do radical islâmico Anwar al-Awlaki. Desde 2009 que a empresa estava sob pressão de activistas e Governos para remover os vídeos do extremista, alguns a recrutar novos militantes para a al-Qaeda

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Seis anos depois da sua morte, o YouTube finalmente removeu perto de 50 mil vídeos do radical islâmico Anwar al-Awlaki. Desde 2009 que a empresa estava sob pressão de activistas e Governos para remover os vídeos do extremista, alguns a recrutar novos militantes para a al-Qaeda

Nascido nos Estados Unidos, filho de pais iemenitas, al-Awlaki era tido como uma das figuras mais proeminentes da Al-Qaeda, conhecido por promover a violência como um dever religioso. Imã de uma mesquita em San Diego, EUA, na década de 1990, os seus discursos eram regularmente ouvidos por dois dos terroristas que executaram o 11 de Setembro – Khalid al-Midhar e Nawaf al-Hazmi.

Depois da sua morte, os seus vídeos no YouTube (cerca de 70 mil, no total) continuaram a ser citados como inspiração de vários ataques terroristas, como o ataque à maratona de Boston, em 2013, e o ataque em San Bernardino em 2015. Agora, porém, ao pesquisar “al-Awlaki” no YouTube, apenas sobram documentários e reportagens sobre o homem.

Contactada pelo PÚBLICO, fonte do YouTube em Portugal descreve a decisão como “um momento decisivo" sobre o futuro do combate à “proliferação não controlada do ciber-jihadismo”, citando um comentário recente de Mark D. Wallace, o director executivo da organização não-governamental Counter Extremism Project, que se queixa destes vídeos há anos.

A acção do YouTube foi demorada porque os vídeos de al-Awlaki se inseriam numa “zona cinzenta” da legislação do site. As regras do YouTube proíbem vídeos a incitar à violência, e proíbem indivíduos nas listas internacionais de terrorismo de criarem uma conta, mas não cobre o que fazer quando o conteúdo é publicado por terceiros, ou quando inclui material inócuo. Entre milhares de vídeos a apelar ao extremismo, al-Awalaki também publicava aulas sobre a história do Islão. No entanto, ao carregar neles, os utilizadores ganhavam acesso a contas dedicadas a al-Awlaki e aos seus vídeos radicais.

Em 2010, o YouTube removeu centenas de vídeos de al-Awlaki a apelar directamente à violência, mas o vídeo Call to Jihad, a convidar muçulmanos do Ocidente a organizar ataques, nos seus países, em nome do Islão, continuou online. Antes da purga mais recente do YouTube, também era frequente os vídeos académicos de al-Awlaki aparecerem nos vídeos recomendados de reportagens e documentários.

A mudança de política do YouTube surge com o amontoar das críticas a plataformas de redes sociais (incluindo o Facebook e o Twitter). Nos últimos meses, a possibilidade de os Governos exercerem mais controlo sob estas plataformas como forma de controlar a proliferação de conteúdo extremista tem sido tema de debate. Em Maio, aquando a cimeira da NATO, os países do G7 assinaram uma declaração a apelar “aos fornecedores de serviços de comunicação e às empresas de redes sociais que aumentem de forma substancial os seus esforços para enfrentarem o problema do conteúdo terrorista.”

Da parte do YouTube, quem faz a remoção manual de vídeos extremistas cria agora uma espécie de impressão digital do vídeo (conhecida como “hash”). Todos os vídeos carregados no sistema são comparados com esta impressão digital dos vídeos proibidos (que agora incluem os de al-Awlaki) para garantir que o conteúdo ilegal não regressa ao site. Porém, o YouTube nota que o conteúdo nunca poderá ser totalmente reduzido a zero, porque haverá sempre conteúdo noticioso sobre o homem.