Dos Moonspell, da maior banda nacional e da maior catástrofe

Não é unânime, porque o estilo musical não é abrangente, mas os Moonspell são certamente a maior banda nacional de rock. Da vertente pesada e negra, mas de rock. Se em tempos uma frase destas provocaria abalos sísmicos nas devoções musicais lusas, hoje a realidade suporta-a: a dimensão internacional impressiona, a longevidade da carreira espanta, a postura de auto gestão (management) surpreende, mas a obra pasma só de enumerar. Acabado de editar, o álbum 1755 é o 13.º de estúdio. Leram bem? Pois é, o 13.º álbum, todo ele em português e concetualmente sobre a maior catástrofe nacional (e europeia), reflete sobre questões religiosas, sociais e políticas da altura do terramoto de Lisboa, assim como sobre morte e regeneração. O primeiro videoclipe (antecedido por dois vídeos letristas: Evento e Todos Os Santos) chegou anónimo esta semana à plataforma VIDEOCLIPE.PT, mas este In Tremor Dei (Medo de Deus) sabemo-lo ser da autoria de Miguel Braga — o mesmo animador do Luna de 2006. No seu habitual registo de animação flash, num traço reto e de definição clara do PB, propõem-nos um testemunho do acontecimento da realidade de uma Lisboa medieval pelo olho de uma ave sinistra. Afinal não é esta cidade que tem por símbolo um tão gótico pássaro? Por curiosidade, o tema dos Moonspell tem a participação vocal de Paulo Bragança, esse fadista-punk ou essa espécie de "Lúcifer do Fado". Confere: demónios, apocalipse, enfim, metal do bom.

 

Texto escrito segundo o novo Acordo Ortográfico, a pedido do autor.