Sacudir as nuvens, pintalgar os céus

Fotogaleria

Ainda não são 7h e já estão umas dezenas de olhos pregados no céu. Aguardam o veredicto dos céus, anunciado por um vulgaríssimo balão, atirado ao ar para testar a corrente. Na tarde anterior, três foram lançados e por três vezes decretaram que o vento não estava de feição. Agora, sábado, último dia do 21.º Festival Internacional Balões de Ar Quente (FIBAQ), o desfecho será diferente: o balão, alheio à responsabilidade que carrega no lombo, sobe num ângulo recto. É a luz verde ansiada pelos balonistas. Começam as movimentações. Passam jipes que carregam cestas, desfraldam-se gigantescos panos que brotam, insuflados, do meio da cidade de Ponte de Sor. Os preparativos demoram, mas são eficazes; virámos costas por um momento e já o balão nasce da terra. De repente, já se voa. Para onde? Ninguém sabe. "Para onde o vento quiser", diz Aníbal Soares, piloto há um quarto de século, com três mil horas de voo nas mãos, e uma empresa (a Publibalão) e um festival (o FIBAQ) que se colam à sua vida. Chegámos aos mil metros de altitude e já não queremos voltar, só ficar, neste céu azul pintalgado de mil cores, onde os balões parecem estacar, suspensos, como se o tempo parasse. "Sacode as nuvens", escrevia Sophia. Assim fazemos, assim faremos, durante mais de uma hora ao reboque do ar. Até que a derradeira despedida lá acontece em pleno Aeródromo de Ponte de Sor — duplo privilégio para os dez que agora deixam a cesta, de olhos cheios de mundo. Agora, resta aguardar. Até para o ano, então. Ainda falta muito?