WikiLeaks pediu favores a filho de Donald Trump

Mensagens privadas trocadas através do Twitter revelam que o WikiLeaks pediu ao filho do actual Presidente dos EUA para sugerir Julian Assange para o cargo de embaixador australiano em Washington.

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Julian Assange, fundador do Wikileaks, está exilado na embaixada do Equador em Londres desde 2012 LUSA/FACUNDO ARRIZABALAGA

O site de denúncias WikiLeaks e Donald Trump Jr., filho do Presidente dos Estados Unidos, trocaram mensagens privadas no Twitter durante a campanha para as eleições presidenciais de 2016, revelou a revista norte-americana The Atlantic, citando documentação entregue pelos advogados de Trump Jr. a investigadores do Congresso que conduzem um inquérito às suspeitas de interferência russa no processo eleitoral. Horas depois, o próprio Trump Jr. fez questão de divulgar as mensagens em causa, confirmando o conteúdo da notícia.

A troca de mensagens revela que o WikiLeaks pediu a Trump Jr. para divulgar o trabalho daquela organização, que esta partilhou informação com o filho de Trump em privado e que foram feitas inúmeras solicitações, incluindo a de que o Presidente dos EUA sugerisse à Austrália a nomeação de Julian Assange, o fundador do WikiLeaks, para o cargo de embaixador australiano em Washington.

“Em relação ao sr. Assange: Obama/Clinton colocaram pressão sobre a Suécia, o Reino Unido e a Austrália (o seu país natal) para perseguir ilegalmente o sr. Assange. Seria muito fácil e útil se o seu pai sugerisse à Austrália a nomeação de Assange como embaixador em Washington”, lê-se na mensagem citada no artigo da The Atlantic.

Assange está exilado na Embaixada do Equador em Londres, no Reino Unido, desde 2012, inicialmente para evitar a extradição para a Suécia, onde era procurado por suspeita de crimes de violação, e actualmente por receio de um pedido de extradição por parte dos Estados Unidos, onde é procurado pela divulgação ilícita de milhares de documentos da diplomacia e das Forças Armadas dos EUA.

O WikiLeaks é acusado pelos serviços secretos dos Estados Unidos de ser uma das peças centrais da campanha russa de interferência nas presidenciais de 2016, tendo divulgado emails roubados à candidatura da democrata Hillary Clinton.

A revista The Atlantic diz ainda que as mensagens foram enviadas até pelo menos Julho de 2017, com algumas a serem ignoradas por Trump Jr.. No entanto, apesar de algumas das comunicações não terem merecido resposta da parte do filho do Presidente, este seguia as pistas indicadas pelo WikiLeaks. Exemplo disso, ainda durante a campanha, foi quando Trump Jr. recebeu mais uma mensagem do site de denúncias informando que tinha acabado de “publicar os emails do Podesta parte 4” – referindo-se aqui aos emails roubados ao antigo chefe de campanha de Hillary Clinton e que foram divulgados durante a corrida presidencial. Ora, Trump Jr. não respondeu, mas 15 minutos depois de a ter recebido, o então candidato Donald Trump reagiu no Twitter: “Muito pouco acompanhamento pela imprensa desonesta da incrível informação divulgada pelo WikiLeaks. Tão desonesta! Sistema corrupto”.

Dois dias depois, era Trump Jr. que divulgava no Twitter o link oferecido pelo WikiLeaks que dava acesso a todos os emails da campanha de Clinton: “Para aqueles que têm tempo para ler sobre toda a corrupção e hipocrisia, todos os emails do WikiLeaks estão aqui mesmo”.

A partir daqui, Trump Jr. ignorou as mensagens enviadas pelo WikiLeaks, enquanto estes pediam, por exemplo, as declarações de impostos do pai, argumentando que a sua divulgação iria beneficiar tanto o próprio como o WikiLeaks, com o site a explicar que ficaria reforçada a imagem de imparcialidade do projecto de Assange, já aí visto como colado aos interesses do republicano e de Moscovo. Mas Donald Trump nunca aceitou divulgar publicamente estes documentos.

Para além dos pedidos, incluindo que a campanha de Trump divulgasse algumas das histórias publicadas pelo site de denúncias, o WikiLeaks oferecia também alguns conselhos. Por exemplo, no próprio dia das eleições, sugeria que o então candidato republicano não aceitasse os resultados caso perdesse, que alegasse a existência de fraude eleitoral e que acusasse a imprensa de ser corrupta. O argumento aqui era o de que isso seria bom para os planos que Trump tinha então para fundar uma empresa de comunicação social caso não fosse eleito para a Casa Branca.

Depois de alguns meses sem dar notícias, o WikiLeaks voltou a enviar uma mensagem em Julho deste ano. Foi três dias depois de o The New York Times ter noticiado a existência de uma reunião, em 2016, entre Trump Jr. e Natalia Veselnitskaya, uma advogada russa com ligações ao Kremlin. Esta notícia foi publicada numa altura em que a alegada interferência de Moscovo nas eleições estava sob investigação, adensando as suspeitas de conluio entre a campanha republicana e a Rússia. O WikiLeaks lamentou então o que estava a suceder ao filho do Presidente e revelou estar “muito interessado” em obter os emails que o jornal norte-americano citou e através dos quais foi combinada a referida reunião. Mais uma vez, Trump Jr. não respondeu, mas, mais tarde, acabou por tomar a iniciativa de divulgar esta correspondência no Twitter.

Esta segunda-feira, e através do Twitter, Assange reagiu à notícia da The Atlantic. "Não posso confirmar as alegadas mensagens privadas de Donald Trump Jr. para o WikiLeaks. O WikiLeaks não mantém esses registos e a apresentação da The Atlantic é editada e claramente não tem o contexto completo", escreveu.

Pouco depois destas declarações de Assange, Trump Jr. utilizou o Twitter para divulgar as mensagens recebidas do WikiLeaks, e as respectivas respostas, afirmando que a fuga de informação foi "escolhida" pelo comité do Senado de forma "selectiva". "Que irónico", atirou ainda o filho de Donald Trump.

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