A “squadra azzurra” tenta não entrar em pânico

A derrota em Estocolmo deixou a Itália mais perto de falhar o seu primeiro Mundial em 60 anos.

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Reuters/KAI PFAFFENBACH

Apenas duas vezes a Itália não esteve na fase final de um Mundial de futebol. Falhou o primeiro de todos, em 1930, no Uruguai, porque não aceito o convite da FIFA para fazer a travessia do Atlântico (mas mais que compensou, com os títulos nos dois Mundiais seguintes, em 1934, que organizou, e em 1938). Vinte anos depois, também não esteve no de 1958, organizado pela Suécia, em parte, porque perdeu com Portugal no Jamor por 3-0, mas também porque foi derrotada pela Irlanda do Norte (que iria ao Mundial). O terceiro Mundial sem os “azzurri” pode bem ser o Rússia 2018, depois de terem perdido o jogo da primeira mão do play-off europeu por 1-0 frente à Suécia.

Não é nenhuma enormidade para ultrapassar no jogo da segunda mão, que será amanhã, em Milão, mas os sinais são preocupantes. O primeiro é ter de disputar um play-off, o que até nem seria demasiado grave tendo a Espanha no Grupo, mas os italianos perderam um dos jogos com a “roja”, empataram outro e tiveram um empate surpreendente com a Macedónia, entre várias vitórias pela margem mínima com outras equipas do grupo (Israel e Albânia). Depois, a exibição em Estocolmo foi francamente pobre, e a única verdadeira oportunidade de golo da Itália foi uma bola ao poste num remate de Darmian aos 70’.

A imprensa italiana foi unânime na avaliação da “squadra azzurra”. “Uma Itália feia e confusa”, dizia a Gazzetta dello Sport na sua primeira página cor-de-rosa. “Uma péssima Itália […] sem ideia de jogo”, escreveu o Tuttosport. “Os ‘azzurri’ são um conjunto de jogadores que não sabem o que fazer […]. Um jogo feio, mal jogado, modesto e medíocre na mentalidade e execução”, dizia, por seu lado, o Corriere della Sera.

“A Itália pareceu uma equipa assustada a jogar para o 0-0. Na Europa isso não é suficiente”, comentava Andrea Pirlo à Sky Sports Itália, ele que, há poucos dias, anunciou a sua carreira como futebolista. Pirlo foi um dos mais brilhantes jogadores italianos das últimas décadas, e assistiu ao jogo pela televisão, no sofá, com um copo de vinho na mão, e com uma câmara da Sky ao lado. “Il Maestro”, como todos os italianos, não gostou do que viu e não comprou a teoria do seleccionador Gian Piero Ventura de erros de arbitragens. “Jogar na Europa não é como jogar em Itália, onde há falta por qualquer contacto.”

Uma Itália assustada foi o que, de facto, se viu em Estocolmo, mas esse estado de espírito não encaixa com uma selecção tão experiente e tão habituada a ambientes adversos. Olha-se para o “onze” inicial e sete deles estão acima dos trinta anos e com várias dezenas de internacionalizações: Buffon (39 anos e 174 jogos), Chiellini (33/95), Bonucci (30/74), Barzagli (36/72), Candreva (30/51), De Rossi (34/117) e Parolo (32/33). Talvez seja mesmo o excesso de veterania que esteja a puxar os “azzurri” para baixo e essa é uma das críticas feitas a Ventura, o antigo treinador do Torino que não conseguiu dar continuidade às boas impressões da Itália de Antonio Conte no Euro 2016 (eliminada nos quartos-de-final pela Alemanha, no desempate por penáltis).

Na iminência do “apocalipse”, como lhe chamou Carlo Tavecchio, presidente da federação italiana, os “azzurri” contam agora com San Siro para dar a volta à eliminatória na próxima segunda-feira – a a Itália teve sucesso da última vez que enfrentou um play-off de apuramento para um Mundial, eliminando a Rússia com um empate (1-1) em Moscovo e uma vitória (1-0) em Nápoles. Mas “as bancadas não marcam golos”, avisa Pirlo. O capitão Gigi Buffon, um dos últimos sobreviventes da geração campeão em 2006 e que vai cumprir o seu 175.º jogo pela Itália, diz que é preciso manter a calma: “Temos de ter a cabeça limpa. Sei que vai ser complicado, mas a primeira coisa que temos de fazer é não chorar com esta derrota. Temos de estar confiantes, ou, então, já perdemos.”

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