Rio vs. Santana: PSD vai navegar em águas agitadas até Janeiro

Os dois candidatos à liderança do PSD falaram perante uma plateia de jovens sociais-democratas, mas não se encontraram

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Rio e Santana estiveram juntos nas jornadas do PSD, mas no conselho nacional da JSD não se cruzaram LUSA/HUGO DELGADO

Falaram na mesma tarde, na mesma sala, mas não se cruzaram ao contrário do que aconteceu nas jornadas parlamentares do PSD. Nenhum dos candidatos proferiu o nome do outro, mas os recados foram claros. Durante a hora em que discursou, Rui Rio utilizou a fórmula “aquele que os portugueses menos querem” para mencionar o adversário. Mais breve na intervenção, Pedro Santana Lopes falou na “outra candidatura”.

Rio começou a discursar pouco depois das 16h30 e abandonou a conselho nacional da Juventude Social Democrata (JSD) ainda antes das 18h30. A chegada de Pedro Santana Lopes estava marcada para as 18h00, mas quando o ex-primeiro ministro chegou à Casa da Cultura, em Coimbra, o ex-autarca do Porto tinha acabado de sair.

Os dois acabaram por trocar palavras através da comunicação social, confirmando que esta campanha tem tudo para ser fratricida. Santana tinha dito mais cedo que Rio comanda um grupo escondido de militantes que traíram o partido. À saída do encontro da JSD, questionado pelos jornalistas sobre quem seriam esses militantes, Pedro Santana Lopes não quis referir nomes, “até porque as pessoas sabem” quem são, disse. E aproveitou para acrescentar que seria mais importante “aparecerem agora” do que a criticar o governo de Passos Coelho, que estava em “missão de salvação nacional”.  Rui Rio respondeu, definitivo: “Alguém que vai muito atrás tem de criar factos para agitar as águas”.

Sobre o actual Governo, embora não tenha dito explicitamente que o alvo era o executivo de António Costa, Rui Rio referiu-se à sua falta de jeito “para gerir a conjuntura” e disse que o que mais o motiva são “os problemas de ordem estrutural”. Problemas que, considera, se forem “empurrados com a barriga”, afectam a “sociedade como um todo”, mas particularmente os mais jovens. “Ao longo dos últimos, deixámos acumular um conjunto alargado de problemas estruturais que mais não são do que um condicionamento do nosso futuro”.

A falar para uma plateia de jovens sociais-democratas, Rio tocou em pontos o emprego, a habitação e a carga fiscal, relacionando-os com aspectos como a dívida, a segurança social e a eficácia do Estado. Para o candidato, os “paliativos não resolvem”. Voltou a bater nas teclas do défice zero, da reforma do regime político, na ideia de que o PSD não é um partido de direita, mas de centro. Falou também dos “acordos estruturais difíceis” que “têm de ser feitos”, defendendo o “diálogo de partidos para resolver problemas de ordem nacional”, da justiça à educação. No mesmo tom, Santana garantiu que, com ele na liderança dos sociais-democratas “não haverá discordância com o Governo todos os dias”, mas sim “concordância no que deve ser alternativa”.

Alguns dos pontos que os candidatos identificam como prioritários são comuns. Nomeadamente o crescimento económico e a coesão territorial. Santana Lopes puxa dos galões da experiência adquirida à frente da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, para colocar em cima da mesa o dossiê das políticas sociais. Antes da chegada a Coimbra, o candidato visitou Pampilhosa da Serra, um dos municípios afectados pelo incêndio de 15 e 16 de Outubro. Para Santana, os incêndios dão mostras de uma “desorientação em que o Estado manifestamente falha”, sendo consequência do “artificialismo” da actual solução governativa.

Para Rio, que defende a reforma do regime, é também importante recuperar o partido. 175, 139, 106 e 98. É esta a evolução do número de câmaras ganhas pelo PSD em eleições autárquicas desde 2005. Os resultados obtidos em grandes centros urbanos como Lisboa, Porto, Gaia, Oeiras ou Matosinhos não ajudam a animar os sociais-democratas. “É tempo de dizer 'alto!'”, anuncia Rio, para quem, a continuar a este ritmo, o partido perderá “grande parte da implantação no território”. O exemplo europeu de partidos na Europa como o PASOK na Grécia ou do PS francês é um aviso. “Se não agirmos, corremos o risco de acontecer” o mesmo que aconteceu e grande partidos europeus.

Santana quer ganhar o partido para depois ganhar o país, um caminho que não percorreu quando chegou pela primeira vez à chefia do governo. “[Em 2004] herdei o poder. Aprendi que o poder não se herda. O poder conquista-se em democracia pela legitimidade do voto”.

Os militantes do PSD tomarão a decisão a 13 de Janeiro de 2018, dia em que escolhem entre Rio e Santana, depois de Pedro Passos Coelho ter anunciado que não procuraria a reeleição para o cargo. 

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