Em casa do ferreiro

Na Aveleda, Gilberto Ferreira tem uma oficina onde, pela noite dentro, faz navalhas e facas. A cutelaria artesanal desperta cada vez mais interesse, diz.

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O sol começa a descer e o horizonte torna-se dourado enquanto percorremos a belíssima estrada entre Bragança e Aveleda. O encontro com Gilberto Ferreira acontece ao final da tarde porque é a altura em que ele volta a casa, e à sua oficina de ferreiro, para trabalhar até à meia-noite.

Ainda não consegue viver só da cutelaria, mas encomendas não lhe faltam. “No início, há uns dez, onze anos, foi o gosto pelas navalhas”, conta o ferreiro de 35 anos. “Comecei a fazê-las com o cabo de haste de veado, que há muito por aqui.” Não vem de uma família de ferreiros, embora o pai tivesse trabalhado numa fábrica de rolamentos na Alemanha e já soubesse temperar o aço. Essa é, aliás, diz Gilberto, a parte mais complicada. “É a ciência de uma navalha.”

Primeiro tempera-se para endurecer o aço, depois faz-se o revenimento, “para aliviar a tensão”. Gilberto tempera o seu aço sobre carvão, “o que ninguém em Portugal faz para cutelaria”, porque acredita que lhe dá uma maior dureza. Liga a forja para nos mostrar. “Só trabalho com aço carbono e por vezes com damasco, que agora está na moda, mas é muito mais caro.”

No damasco usam-se várias lâminas sobrepostas (Gilberto começa com dez, que vai esticando e dobrando, “pode chegar a ter mil camadas, é como a massa folhada”, diz) o que dá um efeito mais bonito na lâmina final da faca que, como leva aço forte em carbono e outro forte em níquel, tem maior flexibilidade. “Antigamente fazia-se por necessidade, porque havia falta de aço carbono, hoje faz-se mais pela beleza.”

Aprendeu muito com outros colegas de profissão, tirando dúvidas na Internet e, sobretudo, experimentando. “Estraguei muito material para chegar a este ponto.” Mas este é um ofício cada vez mais procurado por jovens — e por clientes. “Nos últimos anos tem havido uma evolução bastante grande.” Mostra-nos uma faca de cozinheiro em que está a trabalhar. “Quando se usa a forja fica com outra qualidade do que a do produto de fábrica”, assegura. “Quando o aço sai da forja trabalha-se como madeira.” É preciso martelar até a lâmina “ficar direitinha” e, por fim, aguçar e desbastar.

Para os cabos, diz que o ébano é o favorito dos cozinheiros. E se estes são bons clientes, os caçadores não lhes ficam atrás e nestas navalhas a preferência vai para o corno de veado (que os animais vão perdendo e se encontram muito na zona). No mostruário tem facas e navalhas de muitos tipos e feitios, desde a da enxertia, muito habitual em Trás-os-Montes e que tem a ponta quadrada, até à faca de esfola, para os animais. Os preços podem ir dos oito euros aos 400 ou 500. Pode-se encomendar, comprar a Gilberto numa feira ou ir visitá-lo à sua oficina, aproveitando para ver o espectáculo do pôr-do-sol na estrada para a Aveleda.

 

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