Gaiteiros de Lisboa renascem em palco e revêem carreira em disco

Com nova formação, os Gaiteiros de Lisboa actuam este sábado no Tivoli BBVA, em Lisboa, no âmbito do Misty Fest. E lançam uma colectânea com um tema inédito.

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Os Gaiteiros de Lisboa na sua formação actual (ao centro, Carlos Guerreiro) RITA CARMO

Os Gaiteiros de Lisboa estão de volta. Após dois anos de ausência dos palcos e cinco dos estúdios, actuam este sábado em Lisboa, no Tivoli BBVA (às 21h30) no âmbito do Misty Fest, com Rui Veloso e Sérgio Godinho como convidados especiais. E têm nas lojas um novo disco, uma colectânea chamada A História, com um tema inédito, Roncos do diabo.

Desde a sua fundação, o grupo gravou seis discos: Invasões Bárbaras (1995), Bocas do Inferno (1997), Dançachamas (2000), Macaréu (2002), Sátiro (2006) e Avis Rara (2012), tendo participado em vários projectos de outros músicos. “Voltamos à casa de partida”, diz ao PÚBLICO Carlos Guerreiro, um dos fundadores. “A saída de quatro elementos de uma vez, e ainda por cima quatro elementos fundamentais na definição daquilo que é a linha do grupo, foi um desfalque grande. Mas achei que valeria a pena tentar recomeçar e consegui juntar quatro pessoas que estão a cumprir lindamente, como a vantagem de isto para eles ser novidade.” Carlos Guerreiro diz que, para todos os efeitos, se trata de um renascimento, não é uma onda passageira de revivalismo. “Estão a surgir temas novos, eu próprio estou a construir novos instrumentos, é como se tivéssemos voltado ao princípio. Até estou admirado com o processo.”

Da formação antiga do grupo mantêm-se ele próprio e o Paulo Marinho, que também foi gaiteiro nos Sétima Legião. Entre os quatro elementos novos, há um “repetente”: “O [Paulo] Charneca já tinha estado no grupo. Entretanto fizemos uma aquisição fantástica, o Miguel Quitério, que é um excelente gaiteiro. Depois temos o Carlos Borges, um alentejano habituado a cantar. E finalmente o Sebastião Antunes, que está muito contente porque aqui não é protagonista e isso está a dar-lhe imenso gozo.”

Já quanto aos convidados, é fácil justificar a sua presença. “O Sérgio Godinho é alguém que nos tem acompanhado desde o primeiro momento, inclusive há um tema dele no nosso primeiro álbum [Talvez que sonhando]; e vamos fazer juntos o tema que fizemos para o álbum dele O Irmão do Meio, que é o Quatro quadras soltas.”

E com Rui Veloso vão recordar uma aventura antiga. “Vamos desenterrar uma coisa que fizemos com ele há muitos anos, numa tournée por Macau, um arranjo de um tema muito pouco conhecido dele do disco Auto da Pimenta, o País do gelo. E vamos fazer também o Capa chilrada numa versão arrocalhada, com guitarra eléctrica.”

É mesmo A História

O disco A História, já nas lojas, inclui 20 temas: 18 temas seleccionados (por Rui Mota) de todos os discos do grupo, um do disco colectivo Novas Vos Trago (de 1998) e um último, inédito, a abrir o disco, Roncos do diabo. “Foi um balanço”, diz Carlos Guerreiro. “E é importante, porque às vezes estamos com uma trabalheira a fazer um disco com 12, 13 ou 14 temas e depois passa um na rádio e os outros desaparecem. E aqui foram-se desenterrar temas de que já nem eu me lembrava. E isso é interessante, porque é mesmo a história dos Gaiteiros. Acho que ali estão bem espelhadas todas as nossas facetas, o que é óptimo.” Além disso, os seis discos originais do grupo estão praticamente todos esgotados (na Amazon britânica chegam a pedir desde 50 a mais de 100 libras por eles), e esta colectânea preenche, por isso, um vazio nas lojas.

A História inclui também um “especial agradecimento a todos os que ao longo de muitos anos fazem ou fizeram parte dos Gaiteiros de Lisboa, e à sua contribuição.” Eis a lista, como está no disco: Carlos Ferreira, Carlos Guerreiro, José Mário Branco, José Martins, José Manuel David, José Salgueiro, Miguel Quitério, Paulo Charneca, Paulo Tato Marinho, Pedro Calado, Pedro Casaes, Rui Vaz e Sebastião Antunes.

O tema inédito, Roncos do diabo, tem uma história: “Esse tema é o ponto zero da segunda fase. Já estava composto há algum tempo, já a pensar num próximo disco. Foi uma encomenda que nos fizeram os Roncos do Diabo propriamente ditos, um grupo de gaiteiros [formado em 2005] que nós prezamos muito e que tiveram um papel muito importante no ressurgimento das gaitas-de-foles e até as constroem.” No futuro disco, onde Roncos do diabo será gravado, há já outro na calha: “Vamos piscar o olho aos açorianos e gravar, mas à Gaiteiros, um clássico que é a Chamateia.”

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