Ela Vaz estreia-se a solo com “um disco de emoções”

A cantora Ela Vaz apresenta ao vivo o seu disco de estreia, Eu, novo rumo numa carreira já com dez anos. Este sábado no Auditório da Casa da Cultura de Ílhavo, às 21h30.

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Ela Vaz PAULO MOREIRA

A cantora antes conhecida como Micaela Vaz abreviou o nome e estreou-se num disco a solo. Eu, assim se intitula o disco, é assinado por Ela Vaz. E este sábado é apresentado ao vivo no Auditório da Casa da Cultura de Ílhavo (21h30), bem perto da sua Aveiro natal. Razões para abreviar o nome? Ela diz: “Foi para marcar a diferença entre o que foi a minha carreira até agora e o que é a partir daqui. Até agora fiz sempre participações em projectos de outros artistas, onde eu não era a responsável pelo resultado. Mas agora senti que estava preparada para assumir essa responsabilidade, para fazer algo em nome próprio.”

Em Ílhavo ela estará em palco com o produtor do disco, Quiné Teles (bateria e percussão), Filipe Raposo (piano), Nuno Caldeira (guitarra acústica), António Quintino (contrabaixo) e Ana Catarina Costa (flauta transversal). E terá como convidados Rão Kyao e Rui Oliveira. Todos eles, mesmo os convidados, participaram nas gravações. “É um disco que parte das minhas influências, da tradição musical portuguesa, do fado e que, muito em cumplicidade com o produtor do disco, o Quiné, fomos depois buscando outras influências. Foram três anos a construir o disco. E as músicas que fui pedindo a vários autores, como a Amélia Muge ou o Filipe Raposo, também foram influenciando esta construção. É um disco de emoções. Um disco de raiz portuguesa que transporta a tradição para os dias de hoje.”

A influência do irmão

Ela Vaz participara, antes, em projectos como Aurora, do Lisbon Stockholm Project, Cancionário, de Ricardo Parreira, ou Fado de Um Povo, dos Fatum Ensemble, e foi uma das vozes do disco colectivo Fados e Canções do Alvim (do guitarrista Fernando Alvim). Eu, o seu disco de estreia, tem vários temas originais assinados por Amélia Muge, Filipe Raposo, Uxía, Sérgio Tannus, Ricardo Fino, Miguel Calhaz, Nuno Camarneiro e Viriato Teles, além de versões de temas de José Afonso, José Mário Branco, João Afonso e Victor Jara (este com poema de Pablo Neruda). “Essa era uma canção que eu ouvia na voz da Mercedes Sosa, uma grande senhora, que cantava como eu gostava que me ouvissem. Pedi depois ao Viriato Teles para o traduzir para português e para adaptar essa música.”

Nascida em Aveiro, em 30 de Outubro de 1976, Ela Vaz não recebeu influências musicais dos pais, mas sim do irmão, Rui Vaz, que viria a co-produzir um disco marcante para a música portuguesa e para o fado (Amai, de Paulo Bragança, junto com este e com Carlos Maria Trindade) e que viria a desaparecer prematuramente. “Curiosamente, o que se ouvia em minha casa era Demis Roussos e Julio Iglesias”, lembra ela. “O meu irmão, quatro anos mais velho que eu, sabia desde a adolescência qual era a música que ele queria. E sabia que queria ser produtor musical. Foi uma grande influência para mim, logo desde criança, pela sua paixão pela música e em fazer música.” Ela Vaz acompanhou, por isso, desde muito nova, o processo de formação do irmão. “Formou-se no Canadá, voltou para Portugal e produziu o disco do Paulo Bragança, que foi um disco de quebrar barreiras no fado.” O disco, mal se abre o libreto, tem por isso esta dedicatória: “Para o meu irmão Rui.”

Da pop ao fado

Em pequena, Ela Vaz ouvia sobretudo pop. O irmão sugeriu-lhe, por exemplo, Tori Amos, e ela foi logo ouvir tudo o que podia desta cantora. Mas tardou a começar a cantar. “Eu era muito tímida, ainda estava a descobrir o meu gosto, a minha relação com a música. E com a morte dele, em 1997, ficou um vazio. Para além da perda pessoal, e porque morava em Aveiro, achei que nunca iria ser cantora, achei que era uma página virada na minha vida.”

Foram precisos dez anos para que essa sensação se desfizesse, por influência de outro Rui, Rui Oliveira, um cantor de Aveiro. “Conheci-o por volta de 2007 e descobri que afinal era possível ser-se cantor, com qualidade, autêntico, mesmo morando em Aveiro. Ele começou a convidar-me para os concertos dele e eu, muito timidamente, lá ia cantar, dois, três fados. Comecei, timidamente, nas noites de fado, a pisar os palcos. E a partir daí não parei mais.” Até que um dia foi a Lisboa, ao Chapitô. “Estava a decorrer uma noite de fados, organizada pelo Helder Moutinho, e eu cantei. Nessa altura estavam a preparar um projecto do Ricardo Parreira, o Cancionário, eles gostaram de me ouvir e convidaram-me para participar.” Era o primeiro passo de um novo caminho. Que a levou depois a vários palcos, em Espanha, Bélgica, Alemanha, Suécia, Noruega, Suíça, Estados Unidos, Coreia do Sul e México. Eu, o seu primeiro disco a solo, é o corolário desse caminho. É nele que se explica Ela Vaz.

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