A fragilidade do projeto europeu e a esperança de uma Europa mais unida

Neste momento de instabilidade e numa Europa com pouco tempo, é essencial que os principais líderes políticos consigam dar de novo confiança aos cidadãos para acreditarem no futuro dos seus países como parte da União Europeia.

Nos últimos anos temos assistido a inúmeras vagas de descontentamento na Europa por questões de natureza política, económica e social, o que tem abalado significativamente os alicerces do projeto europeu. Por exemplo, algumas diferenças económicas e sociais entre os estados membros da União Europeia (UE) têm persistido ao longo dos anos. A crise financeira contribuiu não só para acentuar essas desigualdades, como também para instigar a insatisfação de muitos europeus.

Com um conjunto de países com posições tão distintas em assuntos-chave, a tomada de decisões na maioria das matérias tem sido insuficiente. Refiro-me ao volume de refugiados que a Europa recebe todos os anos e para o qual ainda não foi dada uma resposta consistente por parte da UE, mas também ao clima de insegurança que se faz sentir devido ao terrorismo de que a Europa tem sido alvo.

A fragilidade do projeto europeu é evidente e tem-se vindo a materializar de diversas formas. Uma delas foi o inesperado resultado do referendo britânico que ditou a saída do Reino Unido da UE. Apesar de muitos britânicos terem sido sempre sépticos relativamente à UE, o Brexit representou o descontentamento da população de áreas mais desfavorecidas que cedeu a discursos populistas.

Com o Reino Unido a deixar a UE a 30 de maio de 2019, é ainda necessário encontrar consenso em questões que terão consequências sociais e financeiras para as partes envolvidas. É, portanto, tempo de Bruxelas mostrar que está à altura das decisões que lhe competem tomar e de garantir que os cidadãos dos 27 países membros não pagam por uma decisão que não tomaram.

Também a ascensão da extrema-direita em diversos países europeus tem ameaçado os ideais de união e liberdade em que a UE se baseia. No caso da Alemanha, a ascensão do partido Alternativa para a Alemanha (AfD) surge do descontentamento face ao rumo que o país levou sob o comando de Merkel, opondo-se a muitas das suas decisões, nomeadamente ao acolhimento de refugiados.

Convém relembrar que a Alemanha recebeu mais de um milhão de refugiados durante os últimos anos, mas que nem todos se encontram totalmente integrados na sociedade alemã. Em setembro, o Financial Times escreveu que apesar dos gastos com esta questão humanitária serem avultados (€16 biliões em 2015 de acordo com a OCDE), em junho deste ano, apenas 20% dos refugiados de guerra na Alemanha se encontravam empregados [1]. Ou seja, apesar de Merkel ter tido a coragem de receber todas estas pessoas no seu país, a forma como o processo de acolhimento tem decorrido não parece ser a mais eficiente e, inevitavelmente, a culpa recai também sobre Bruxelas.

Claramente, a Europa falhou na forma comunicou com os europeus e na eficiência a dar resposta a assuntos de carácter urgente que têm vindo a ameaçar a UE. Ainda assim, acredito que é possível mudar a rota descendente para a qual nos temos encaminhado.

Neste momento de instabilidade e numa Europa com pouco tempo, é essencial que os principais líderes políticos consigam dar de novo confiança aos cidadãos para acreditarem no futuro dos seus países como parte da UE. É necessário que haja vontade política para debater e conseguir solucionar temas fulcrais como o Brexit, a insegurança face ao terrorismo e a crise de refugiados.

Ainda assim, encontrar soluções para estas questões não será suficiente para assegurar o futuro da Europa. É igualmente essencial que se incentive a convergência dos países membros para que as desigualdades económicas e sociais sejam mitigadas e para que se fomente a união dos povos. Só desta forma se conseguirá conter os movimentos extremistas e eurocéticos, bem como apaziguar o descontentamento dos cidadãos e a propagação do medo e do racismo na Europa.

Angela Merkel já assumiu a necessidade de combater a imigração ilegal, mostrando também que a segurança deve ser uma matéria de foco e de cooperação com os países parceiros. Tanto Merkel como Emmanuel Macron defendem também que a Europa deve apostar em políticas de convergência. Entre outras sugestões, o Presidente francês propôs mesmo a criação de um ministro das finanças europeu, a existência de um orçamento comum para os países que adotam o euro e uma convergência cuidadosa dos salários mínimos praticados nos estados membros.

Discussão sobre estes temas nunca foi tão necessária e a pressão sobre as Instituições Europeias nunca foi tão forte. Resta-nos então esperar que os responsáveis políticos continuem a debatê-los de forma sensata e não demorem a tomar decisões que são essenciais para dar continuidade a este projeto visionário e tornar a Europa mais unida e próspera.

[1] https://www.ft.com/content/e1c069e0-872f-11e7-bf50-e1c239b45787

A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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