Startups francesas interessadas em mudar de Espanha e Reino Unido para Portugal

A estratégia do Governo francês para desenvolver e internacionalizar as startups do país serve de marca e dá credibilidade, dizem as empresas.

Foto
Os contactos entre startups e investidores são cruciais na Web Summit Ricardo Lopes

“Um número impressionante de startups de capital francês” com actividade em Barcelona, Madrid e Londres contactaram no último mês a French Tech Lisbon com planos para se mudarem ou expandirem para Lisboa, revelou Rémi Charpentier ao PÚBLICO, representante da iniciativa francesa que tem por trás um ambicioso projecto que junta o governo de Paris e entidades privadas. E que é visto como exemplo de uma política de internacionalização “aplicada” à Web Summit.

Criada em Outubro, a French Tech Lisbon anunciou que ia motivar as startups portuguesas a alargarem os seus negócios para Paris. As intenções do lado português têm surgido, segundo Remi Charpentier, na área dos moldes para a indústria automóvel e retalho. Mas é a reacção de startups francesas que parece constituir a surpresa. Em ambos casos, o responsável prefere não identificá-las nem enumerá-las até que as intenções se concretizem.

Há quatro anos, o governo francês e um grupo de instituições privadas criou a French Tech, com o objectivo de dar visibilidade a nível internacional e de dinamizar o sistema de startups do país em fase de grande desenvolvimento. A French Tech Lisbon é a delegação portuguesa desta rede.

Um resultado visível do que pode acontecer quando por trás está uma estratégia política concertada para apoiar startups foi o aumento do número de empresas francesas na Web Summit. Foram 100 no ano passado, agora 150, vieram sobretudo de Paris, Lyon e da região do Loire e são consideradas a elite deste ecossistema em França, país europeu onde mais crescem, segundo os rankings. A French Tech (FT) teve um espaço próprio no evento e um indicador do destaque que teve nos três dias da Web Summit foi este: entre as 25 empresas mais procuradas, cinco eram francesas.  

Charpentier, à frente da sua startup, em Lisboa, diz que sem a FT “estaria sozinho” em eventos como a Web Summit, “teria perdido os eventos paralelos que a FT organiza e que é onde se fazem os melhores contactos e se estabelecem mais redes”. Para o exterior, sublinha, esta organização “funciona como uma marca, com efeitos muito positivos para as startups”. Os apoios vão desde os encontros organizados à comparticipação no custo das viagens ou na preparação dos gestores para saberem apresentar os seus projectos.

Lauren Boudard, da Business France, agência francesa dedicada à internacionalização da economia francesa (congénere da AICEP portuguesa), vê uma “grande vantagem [para as empresas] em ser representante de um país e dar o nome da French Tech. No fundo as empresas têm por trás uma espécie de marca francesa para o mundo”. Refere que dias como os da Web Summit, em que participou, dão “visibilidade internacional” ao projecto. Em vários sentidos: as empresas francesas têm oportunidade de expandir o negócio além fronteiras, de conseguirem mais atenção da própria França, enquanto “as empresas internacionais vêem perguntar como se podem instalar em França”.

Para o fundador da Smarter Time, Anis Fehri, “a Web Summit tem uma enorme credibilidade e estarmos aqui com o selo de aprovação da French Tech dá-nos ainda mais valor para os media franceses que visitam a feira e querem falar do seu país”. A Smarter Time é uma aplicação para smartphone, que ajuda o utilizador a gerir melhor o seu tempo. Utiliza geo-localização para saber o que as pessoas fazem com o seu tempo (por exemplo, aceder ao Facebook no local de trabalho) e enviar recomendações e relatórios detalhados no final do dia.

“O ano passado viemos à Web Summit, mas tínhamos começado. O interesse era essencialmente de pequenos media e blogues. Este ano estamos a ter mais destaque”, diz o fundador.  Foram entrevistados pelo canal de televisão francês France 24, pela primeira vez, ontem, em Lisboa.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários