Greve dos técnicos de diagnósticos já afectou 100 mil utentes, dizem sindicatos

Ao oitavo de dia de greve, há manifestações no Porto, Coimbra e Lisboa. "Não aceitamos que o Ministério da Saúde envie propostas a outros profissionais e aos técnicos de diagnóstico tenha definido Setembro como data limite para apresentar uma proposta, sem que o tenha feito", diz dirigente sindical.

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Em Novembro do ano passado, os técnicos de diagnóstico e terapêutica estavam em greve Fabio Augusto

Ao 8.º dia de protestos, segundo contas sindicais, a greve dos técnicos de diagnóstico e terapêutica já afectou 100 mil utentes. Algumas centenas de profissionais manifestam-se esta quinta-feira em frente Hospital Santa Maria, em Lisboa, no São João, no Porto, e no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.

A greve, que já dura há oito dias, decorre por tempo indeterminado, não sendo certo se vai prosseguir. Os sindicatos que promovem o protesto esperam que o Ministério da Saúde se aproxime das reivindicações.

Em consequência do protesto, exames, consultas e até cirurgias programadas têm sido adiadas. Segundo Luís Dupont, vice-presidente da direcção do Sindicato Nacional dos Técnicos Superiores de Saúde das Áreas de Diagnóstico e Terapêutica (STSS), cerca de 100 mil utentes terão sido já afectados por esta greve.

Fernando Zorro, da direcção do sindicato, referiu que o impacto desta greve só não é maior porque os profissionais alargaram o âmbito dos serviços mínimos, tendo em conta a realização da Web Summit em Lisboa. "Não queremos que a imagem do país fique lesada e por isso reforçámos os serviços mínimos em matéria de recolha de sangue", adiantou.

Para os dois sindicalistas, é flagrante "a falta de respeito do Governo perante os utentes". "Não aceitamos que o Ministério da Saúde envie propostas a outros profissionais - como os médicos e enfermeiros - e aos técnicos de diagnóstico tenha definido o mês de Setembro como data limite para apresentar uma proposta, sem que o tenha feito", disse Fernando Zorro.

Dina Carvalho, secretária-geral do Sindicato dos Técnicos Superiores de Diagnóstico e Terapêutica (SINDIT), sublinhou que os sindicatos se disponibilizaram para começar a discutir questões que nem sequer têm impacto orçamental. "Conhecemos a situação do país e por isso mesmo mostrámo-nos disponíveis para avançar com estas questões", disse.

Ao longo destes oito dias de greve, o Ministério da Saúde terá contactado o sindicato e explicado que está a trabalhar com as Finanças na elaboração de uma proposta, disse Luís Dupont.

Sobre a continuidade da greve, o sindicalista mostrou esperança que, até ao final da semana, o Ministério da Saúde desbloqueie as negociações e, desta forma, evite mais greves no sector.

O sindicato acusa a tutela de continuar "sem corrigir a assimetria constituída com o tratamento de favor dos nutricionistas". Estes profissionais, apesar de terem uma formação igual à dos técnicos de diagnóstico e terapêutica, recebem mais 600 euros. Para o sindicato, "o Ministério da Saúde continua sem corrigir as assimetrias profundas das carreiras na saúde, agravando as desigualdades.

Segundo os sindicalistas, tinha sido acordado com o Governo uma quota de 30% de lugares de topo de carreira para os profissionais de diagnóstico e terapêutica. Contudo, em Conselho de Ministros, essa quota foi diminuída para 15%, uma situação que os está a indignar.

"Não somos licenciados de segunda"

Em frente ao Hospital São João, no Porto, cerca de 100 técnicos de diagnóstico e terapêutica protestaram pela regulamentação da carreira profissional que esperam há 18 anos. Empunhando faixas onde se lia "Não somos licenciados de segunda", "Direito à igualdade", "Hospital parado" ou "Discriminação não", os profissionais gritavam "Vergonha" e "Igualdade", deixando claro que irão continuar parados até quando o Governo de António Costa quiser.

O presidente do STSS, Almerindo Rego, disse que os custos de revisão desta carreira não são "nada elevados" comparados com outros, por isso, não entende este impasse com prejuízos para o Serviço Nacional de Saúde (SNS). E vincou: “Todo o trabalho clínico depende do nosso trabalho, por isso, esta greve afecta toda a prestação de cuidados de saúde”.

"Estamos numa dicotomia entre o que estamos a causar aos utentes e aquilo que merecemos, pelo nosso mérito e pela nossa formação académica", frisou a técnica superior de radiologia Gina Pinto. Assumindo que as repercussões da greve no salário são "grandes", Adelina Gomes, técnica superior de análises clínicas, ressalvou que, apesar disso, é necessário porque "é hora" de o Governo tomar uma atitude.

Os técnicos de diagnóstico e terapêutica são constituídos por 19 profissões e abrangem áreas como a cardiologia, análises clínicas, radiologia, fisioterapia, farmácia ou cardiopneumologia, num total de 10 mil profissionais em exercício nos serviços públicos.

Em Coimbra, os manifestantes, que a organização estima serem mais de 200, exigem a cumprimento do acordo por parte do Governo e reclamam horários de trabalho de 35 horas semanais para todos.

Há entre estes profissionais quem cumpra 40 horas de trabalho, não só por exercer a sua actividade em estabelecimentos de saúde privados, mas também no seio do próprio SNS e até do mesmo estabelecimento (desempenhando as mesmas funções), por ter um contrato de trabalho individual, disse o dirigente sindical e um dos manifestantes em Coimbra, Rodolfo Ferreira.

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