Neste livro, Célia fala de celíacos e para celíacos, com humor

Divulgar a doença celíaca e fazer com que os celíacos como se riam das próprias adversidades. Estas são as propostas de Eve Ferretti, apresentadas na forma de um livro e de um site. A Célia Celíaca é apresentada no Porto

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O homem que soltava pum e outras histórias

Célia gosta de tratar as coisas pelo nome e de "pôr o dedo na ferida". Partilha as suas dificuldades do dia-a-dia nas redes sociais, mas gosta de as polvilhar com humor. Esta podia ser a biografia de uma pessoa comum, mas Célia não é uma pessoa — e mesmo não o sendo, também não é comum. Célia Celíaca é uma personagem e o nome já denuncia o que nela há de peculiar: é a "primeira personagem celíaca do mundo". Foi criada pela escritora e ilustradora Eve Ferretti em 2016 e é voz e espelho daqueles que são afectados por esta doença, ainda hoje “pouco conhecida”. Tanto no Instagram como no Facebook, Célia reúne desabafos de celíacos de Portugal e do Brasil.

Agora, a personagem ganha um site, que vai ser apresentado este sábado, 11 de Novembro, no Hotel Vila Galé Porto, no 46.º Encontro Nacional de Celíacos. Para além disso, Eve também apresentará o livro O homem que soltava pum e outras histórias, só com personagens celíacas. Escrita e ilustrada pela própria, a obra é “um pequeno universo celíaco, no qual cada personagem é um sintoma”, explica ao P3. O livro também chegará ao Brasil, “unindo assim as associações de celíacos dos dois países”, diz Pedro Mota Teixeira, que desde o início de 2017 se juntou a Eve para dar um novo fôlego à personagem, tanto nas ilustrações como no novo site. Durante seis meses, ambos trabalharam no desenvolvimento de Célia Celíaca e o primeiro resultado chegou em Setembro passado, quando Célia anunciou ter mudado o seu “visû”.

Pedro não é celíaco e diz ter caído de pára-quedas no tema quando conheceu o projecto. “A doença celíaca não é muito evidente”, pelo que se revela “muito importante passar a mensagem e alertar”, considera. Segundo Daniela Afonso, nutricionista da Associação Portuguesa de Celíacos (APC), esta é uma doença que afecta “perto de 1% da população portuguesa, ainda que muitos casos estejam subdiagnosticados”. Contudo, “na maior parte dos casos”, os celíacos só descobrem a sua condição na idade adulta, ainda que possam ter convivido com os sintomas típicos durante a infância. Vómitos de repetição, prisão de ventre ou atraso no crescimento são alguns dos sintomas que, caso não sejam tratados, podem evoluir para estados graves de malnutrição, como informa o site da ACP.

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Eve Ferretti é escritora, ilustradora e também ela celíaca DR

Eve faz parte dessa estatística: fez o primeiro exame em 2012, mas só passados três anos, já depois dos 30, lhe foi diagnosticada a doença — tardiamente. A adaptação a uma nova realidade e aos novos hábitos alimentares “foram processos duros”, mas foi nesse caminho que a brasileira encontrou “a vontade de criar algo artístico relacionado com a doença”. Na idade adulta, os sintomas “são atípicos”, como explica a nutricionista Daniela Afonso, e podem variar entre “anemia, aftas recorrentes, dores ósseas, cansaço crónico, fertilidade diminuída ou abortos espontâneos e alterações de comportamento”.

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A ilustradora e a nutricionista da ACP concordam: esta doença ainda é pouco conhecida, “mas é importante saber que, apesar de não ter cura, pode ser controlada através de uma dieta rigorosa sem glúten”. Em Portugal, “a oferta de produtos aptos para celíacos em supermercados tem aumentado e os preços têm diminuído”, explica Daniela Afonso. A nutricionista alerta que, contudo, existem ainda muitos desafios, sendo os restaurantes um dos maiores. “Ainda que o restaurante prometa comida sem glúten, alguns alimentos que não sejam aptos para celíacos podem entrar em contacto com a ementa gluten free”, adverte.

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Para ajudar adultos e crianças a descobrir a doença, Célia Celíaca também vai ter direito a um livro, uma espécie de “manual de sobrevivência para celíacos” cujo lançamento está agendado para 15 de Dezembro. Eve adianta ainda que o site terá uma função pedagógica, “que não será só para celíacos, mas também para aqueles que convivem com outras intolerâncias ou alergias”.

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