Relações entre China e EUA estão num “novo ponto de partida histórico”, diz Xi

O Presidente norte-americano disse em Pequim que o comércio entre os dois países será “justo” e “gigantesco” e que ambos acreditam numa solução para a crise com a Coreia do Norte.

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Trump elogiou repetidas vezes Xi, considerando-o “um homem muito especial” Damir Sagolj/REUTERS

O Presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou esta quinta-feira que vai continuar a fazer pressão sobre a China para que faça tudo ao seu alcance para controlar os programas nuclear e balístico da Coreia do Norte. Revelou também ter dito a Xi Jinping que as condições comerciais entre Pequim e Washington têm sido injustas, mas elogiou a promessa do seu homólogo de que a China vai abrir mais a sua economia às empresas estrangeiras.

Trump e Xi falavam aos jornalistas para anunciar a assinatura de acordos comerciais entre empresas dos dois países, que rondam um total de 250 mil milhões de euros, e, ao abordar os dois assuntos mais sensíveis na agenda da sua visita a Pequim, Trump usou um tom mais moderado do que o que tem sido habitual. 

“A China pode resolver este problema de forma rápida e fácil”, afirmou Trump sobre as ambições militares da Coreia do Norte, pedindo a Pequim que reduza as ajudas financeiras àquele país e exortando a Rússia a fazer o mesmo.

No campo das relações comerciais, Trump voltou a lamentar a dificuldade no acesso ao mercado chinês, mas deixou claro que responsabilizava os seus antecessores, e não Pequim, pelo desequilíbrio comercial e elogiou repetidas vezes o seu homólogo, considerando-o “um homem muito especial”. “Vamos fazer isto [comércio] justo e será excepcional para ambos”, disse Trump.

Xi sorriu largamente quando Trump disse que não responsabiliza a China pelo défice e também quando afirmou que o Presidente chinês faz as coisas acontecerem. “É claro que há algumas fricções, mas, com base na cooperação vantajosa e na concorrência leal, esperamos poder resolver todas essas questões de forma franca e negociada”, disse o Presidente chinês. “Manter a abertura é a nossa estratégia de longo prazo. Nunca vamos estreitar ou fechar as nossas portas. Vamos alargá-las ainda mais”, afirmou.

A seguir, garantiu que a economia chinesa vai tornar-se mais aberta e transparente para as empresas estrangeiras, incluindo as norte-americanas, convidando-as mesmo a participar na estratégia de desenvolvimento que está a promover, designada “As Novas Rotas da Seda [uma terrestre e uma marítima]” e destinada sobretudo aos países euro-asiáticos.

À espera de um modesto progresso

Trump quer manter a pressão sobre a China para que endureça ainda mais a sua resposta ao programa nuclear que a Coreia do Norte desenvolve à revelia das resoluções das Nações Unidas. Um responsável norte-americano disse esperar alguns progressos durante esta visita, embora não haja sinais imediatos de um grande avanço.

Nas declarações à impresa, Trump usou palavras mais suaves do que nos últimos anos. Dirigindo-se a Xi, o Presidente americano afirmou: “Eu acredito que há uma solução para isso, como você.” Xi reafirmou que a China vai continuar a trabalhar pela desnuclearização da península coreana, mas não deu qualquer sinal de que vai mudar de estratégia em relação à Coreia do Norte, ao lado de quem lutou na guerra de 1950-53 contra as forças lideradas pelos Estados Unidos. “Estamos empenhados em chegar a uma resolução através do diálogo e de consultas”, afirmou.

O secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, que assistiu ao encontro bilateral, revelou o que Trump terá dito a Xi: “Você é um homem forte, eu tenho certeza que pode resolver isto por mim.” Tillerson disse que os dois líderes concordaram que não podem aceitar uma Coreia do Norte com armas nucleares, mas reconheceu que ambos têm algumas diferenças sobre as tácticas e os calendários.

Num discurso em Seul, dois dias antes, Trump convidara os norte-coreanos “a sentarem-se à mesa” das negociações, em linha com o desejo chinês de uma solução negociada, embora tenha salientado que estava preparado para uma resposta militar, se considerasse a ameaça suficientemente séria.

Numa prova da importância que a China dá a esta primeira visita oficial de Donald Trump, a cerimónia de boas-vindas desta quinta-feira, que teve lugar no Grande Salão do Povo de Pequim, com vista para a Praça Tiananmen, foi transmitida em directo na televisão estatal, um gesto sem precedentes noutras visitas de Estado.

Logo de manhã, o Presidente chinês revelou ter tido uma profunda troca de pontos de vista com Trump, em que se chegou a consenso sobre várias questões de interesse mútuo. “Para a China, a cooperação é a única escolha real, apenas um resultado que agrade a ambas as partes pode criar um futuro ainda melhor”, afirmou.

Xi disse ainda que a China e os Estados Unidos fortaleceram o diálogo de alto nível em todas as frentes durante o ano passado e reforçaram a coordenação em questões internacionais importantes, como a península coreana e o Afeganistão. “As relações entre a China e os Estados Unidos estão agora num novo ponto de partida histórico”, disse Xi.

Os dois líderes tiveram a sua primeira reunião em Abril no resort de Mar-a-Lago, propriedade de Donald Trump na Florida, e continuaram o seu “bromance” na quarta-feira, com uma tarde de turismo ao lado das suas mulheres. No entanto, as divisões que persistem sobre a crise nuclear e o comércio não foram resolvidas. E enquanto Xi está num momento alto, depois de consolidar o seu poder no Congresso do Partido Comunista, no mês passado, Trump chegou à China com baixas taxas de aprovação pública, após a vitória da oposição democrata em duas eleições estaduais e acossado pelas investigações à ingerência russa na sua campanha eleitoral.

O “horrível” superavit da China

Antes de viajar para Oriente, Trump criticara o enorme superavit comercial da China com os EUA, classificando-o como “embaraçoso” e “horrível” e acusara Pequim de práticas comerciais injustas. Por sua vez, a China anunciou que as restrições dos EUA ao investimento chinês no país e às exportações de alta tecnologia precisavam de ser abordadas.

Vários executivos de empresas norte-americanas integraram a delegação liderada pelo secretário de Comércio, Wilbur Ross. A General Electric e a fabricante de semicondutores Qualcomm Inc aproveitaram a viagem para anunciar milhões de dólares em vendas para a China.

Mas o acordo da Qualcomm para vender componentes de 12 mil milhões de dólares a três fabricantes chineses de telemóveis ao longo de três anos não é vinculativo, e os críticos afirmam que tais anúncios públicos às vezes são mais espectáculo do que substância.

“Isso mostra que temos uma relação económica bilateral forte e vibrante, e ainda assim precisamos de nos concentrar no nivelamento do campo de jogo, porque as empresas dos EUA continuam a ser prejudicadas quando fazem negócios na China”, disse William Zarit, presidente da Câmara Americana de Comércio na China.

As práticas comerciais da China foram um dos cavalos-de-batalha de Trump durante a campanha eleitoral, tendo ameaçado tomar medidas uma vez no cargo. Mas para já absteve-se de aplicar qualquer sanção comercial, deixando claro que estava a dar tempo a Pequim para obter progressos na Coreia do Norte. Um funcionário dos EUA disse que os dois lados estão “sincronizados” sobre a necessidade de minimizar o atrito durante a visita, mantendo um ambiente positivo até à cimeira bilateral prevista para Abril.

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