Ambiente não avança com intervenção no cordão dunar do Cabedelo

Movimento cívico SOS Cabedelo, que criticava a forma como estava prevista a empreitada, aplaude. Autarquia vai apresentar alternativa

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Nuno Ferreira Santos

A intervenção para repor o cordão dunar da praia do Cabedelo, na Figueira da Foz, não vai ser executada. Pelo menos não nos moldes em que estava desenhada. A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) “deixou cair” a obra que tinha sido contestada pelo movimento cívico SOS Cabedelo.

A intervenção da APA que incluía a reconstituição do cordão dunar do Cabedelo e a construção de um muro de suporte junto ao molhe Sul do porto comercial da Figueira da Foz não vai avançar, disse o presidente da câmara municipal João Ataíde à Agência Lusa. O trabalho de reforço da duna daquela praia vai ter outros contornos e será lançado pela autarquia, explica Ataíde ao PÚBLICO.

O SOS Cabedelo criticava a construção do muro e a forma como era feito o reforço do cordão. Primeiro porque o muro iria afectar a onda do Cabedelo, piorando assim as condições para a prática de surf na praia que é muito frequentada para o efeito, apontavam. No caso do reforço das dunas, o movimento questionava a origem dos sedimentos. O movimento manifesta por isso satisfação com o anúncio.

Miguel Figueira, do SOS Cabedelo, lembra que a tentativa de travar a empreitada consistiu no envio de duas queixas à Comissão Europeia, num esforço que passou também pela sensibilização para a causa que envolveu o surfista norte-americano Garrett McNamara.

O movimento contestava a ripagem de areias - que consiste na retirada de sedimentos da zona de rebentação – para reforçar as dunas. A APA negou a prática e garantiu que o previsto era ir buscar sedimentos à zona do Cabedelinho.

“Eles estavam a roubar areia ao mar. A obra parou. Mas a costa continua em perigo”, afirma Miguel Figueira, para quem é importante esclarecer o que se vai passar a seguir no Cabedelo. “Só parar a empreitada não chega. Ficámos a meio caminho”. Se antes se estava a “agravar o défice” de sedimentos na praia, a questão agora é “quando é que vamos começar a repor”. Agora é importante proceder à “alimentação da praia submersa” para o “reequilíbrio da deriva”, algo que é possível fazer com recurso à areia depositada imediatamente a Norte da foz do Mondego, na praia da Figueira, defende.

João Ataíde explica que a autarquia vai fazer uma candidatura no âmbito do Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos (PO SEUR) para levar a cabo o reforço do cordão dunar do Cabedelo. O PÚBLICO contactou a APA sobre a intervenção no Cabedelo, mas não obteve resposta.

Proteger a onda

A empreitada prevista pela APA, que estava inicialmente prevista para começar antes da época balnear, não chegou a ter início e João Ataíde explica que o trabalho de reforço da orla costeira passa agora pela autarquia, que tem outro projecto pensado para a envolvente da praia do Cabedelo.

Esta semana, o município adjudicou uma obra de 2,64 milhões de euros naquela zona que implica novos parques de estacionamento e uma praça na frente de mar. Praça essa que seria protegida pelo muro que a APA deixou cair. Uma questão que o presidente admite ter de ajustar com o arquitecto responsável. “É só evitar que haja um galgamento que ponha em causa a praça”, construindo “uma protecção para eventuais avanços do mar”, afirma.

A retirada do projecto da APA não tranquiliza Miguel Figueira. Para além dos receios sobre o método de combate à erosão costeira, a construção da “praça do surf” é uma preocupação. “A câmara desenhou a praça, que vai com lajeados até esse muro. Mas já não tens essa protecção”, aponta. “É uma obra que já não tem suporte”, refere, acrescentando que a praça “deve recuar” em relação ao mar e que aquele local “deve manter-se praia”.

Uma construção de uma estrutura naquele ponto também teria consequências na onda do Cabedelo. “Uma estrutura rígida vai fazer com que o resto da onda faça refluxo, propaga-se no sentido contrário e estraga as ondas todas. Faz um efeito de onda de ressaca e isso dá cabo do surf”, explica.

O presidente da Figueira da Foz garante que fazer uma intervenção “que não ponha em causa a prática de surf” é uma preocupação. O objectivo, assegura Ataíde, é mesmo valorizar uma zona que actualmente é um “espaço industrial degradado” para a transformar numa “estância de surf”.

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